sexta-feira, fevereiro 22

Cara limpa


Não pode haver em mim nem maquiagem, nem dissimulação, e jamais se percebe em meu rosto as aparências de um sentimento que não esteja em meu coração.
Erasmo de Rotterdam, excerto de Elogio da Loucura

Sou doutras coisas

Monet, Claude
Sou doutras coisas

fiz o meu barco com guitarras e com folhas

e com o vento fiz a vela que me leva

sou pescador de coisas belas, de emoções

sou a maré que sempre sobe e não sossega


Fernando Tordo

Leve


Leve, leve, muito leve,
Um vento muito leve passa,
E vai-se, sempre muito leve.
E eu não sei o que penso
Nem procuro sabê-lo.
Alberto Caeiro
Anne Julie
"Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura."








Fernando Pessoa
in Do Livro do Desasossego

Urge dispor o amor
de outra maneira
cultivar o desalinho
arrumar as dores
lavar as mágoas
polir a ternura
e depois
abandonar a casa
o amor não pode nunca ser
lugar de exílio


João Manuel Ribeiro

quinta-feira, fevereiro 21

"Quando eu morrer

voltarei para buscar os instantes
que não vivi junto ao mar"

.......Sophia de Mello Breyner


"O amor é quando a gente mora um no outro".
Mario Quintana.

quarta-feira, fevereiro 20

Soneto da saudade


Quando sentires a saudade retroar

Fecha os teus olhos e verás o meu sorriso.

E ternamente te direi a sussurrar:

O nosso amor a cada instante está mais vivo!

Quem sabe ainda vibrará em teus ouvidos

Uma voz macia a recitar muitos poemas...

E a te expressar que este amor em nós ungindo

Suportará toda distância sem problemas...

Quiçá, teus lábios sentirão um beijo leve

Como uma pluma a flutuar por sobre a neve,

Como uma gota de orvalho indo ao chão.

Lembrar-te-ás toda ternura que expressamos,

Sempre que juntos, a emoção que partilhamos...

Nem a distância apaga a chama da paixão.


Guimarães Rosa



"Ninguém recolhe o bem sem conquistá-lo e ninguém recebe o mal sem atraí-lo."
(Emmanuel)



A minha pele colhe arrepios
na noite fria faço do meu cobertor
poema dos teus abraços
aqueçendo-me do teu amor.
[Bardo Brasil]











"É revoltante a quantidade de seres fracassados!

Mais revoltante ainda é seus conformismos beatos,

a sua segurança;

como é revoltante ainda a sua falta de interesse pela evolução coletiva do homem,

quando é certo que tudo pode ruir muito rapidamente!"


(Nietzsche)


Não tenhas medo do amor. Pousa a tua mão devagar

sobre o peito da terra e sente respirar

no seu seio os nomes das coisas que ali estão a

crescer: o linho e genciana; as ervilhas-de-cheiro

e as campainhas azuis; a menta perfumada para

as infusões do verão e a teia de raízes de um

pequeno loureiro que se organiza como uma rede

de veias na confusão de um corpo.A vida nunca

foi só Inverno, nunca foi só bruma e desamparo.

Se bem que chova ainda, não te importes: pousa a

tua mão devagar sobre o teu peito e ouve o clamor

da tempestade que faz ruir os muros: explode no

teu coração um amor-perfeito, será doce o seu

pólen na corola de um beijo, não tenhas medo,

hão-de pedir-to quando chegar a primavera.


Maria do Rosário Pedreira


Hoje roubei todas as rosas dos jardins


e cheguei ao pé de ti de mãos vazias.



Eugénio de Andrade


Mesmo que não conheças nem o mês nem o lugar caminha para o mar pelo verão.
Ruy Belo


A gaveta da alegria

já está cheia

de ficar vazia


Alice Ruiz

Esta manhã encontrei o teu nome nos meus sonhos

e o teu perfume a transpirar na minha pele. E o corpo
doeu-me onde antes os teus dedos foram aves
de verão e a tua boca deixou um rasto de canções.

No abrigo da noite, soubeste ser o vento na minha
camisola; e eu despi-a para ti, a dar-te um coração

que era o resto da vida - como um peixe respira
na rede mais exausta. Nem mesmo à despedida
foram os gestos contundentes: tudo o que vem de ti
é um poema. Contudo, ao acordar, a solidão sulcara
um vale nos cobertores e o meu corpo era de novo
um trilho abandonado na paisagem. Sentei-me na cama

e repeti devagar o teu nome, o nome dos meus sonhos,
mas as sílabas caíam no fim das palavras, a dor esgota
as forças, são frios os batentes nas portas da manhã.


Maria do Rosário Pedreira

Poema para habitar


A casa desabitada que nós somos

pede que a venham habitar,

que lhe abram as portas e as janelas

e deixem passear o vento pelos corredores.

Que lhe limpemos vidros da alma

e ponham a flutuar as cortinas do sangue

– até que uma aurora simples nos visite

com o seu corpo de sol desgrenhado e quente.

Até que uma flor de incêndio rompa

o solo das lágrimas carbonizadas e férteis.

Até que as palavras de pedra que arrancamos da língua

sejam aproveitadas para apedrejarmos a morte.


Albano Martins

estou...


à espera de uma leve brisa ...


Há coisas

sobre

as quais

me quero

calar

porque

preciosas

de mais

precisas

de mais


Outras

porque

cruas

de mais

como

aventais


Adília Lopes

terça-feira, fevereiro 19


"Que todos os que se aproximarem de mim tenham vontade de cantar,

esquecendo as amarguras da vida."



(Paul Claudel)

segunda-feira, fevereiro 18

Cada um vê o que pareces, poucos sentem o que és.
Maquiavel





esse par de braços
que estendoa
braça o mundo
enquanto é tempo
sei que cada momento
é tudo o que tenho
e o agora tudo que existe
de braços abertos
me entrego
e abraço os amigos
enquanto os vejo
no recanto seguro
do que amo e sinto
a alma, espaço sem limites
mesmo quando estou triste
e o pranto é tanto
e a dor é toda
não sei como nem quanto
guardo nos braços um abrigo
me curo, me dando
esse é meu gesto
exponho o peito sem medo
sem dúvida, inteiro
e a quem queira
me entrego

© LUIZ FERNANDO PRÔA



"...De vez em quando cai-me a alma aos pés...


E se tento apanhá-la...


Foge-me para um céu sem nuvens..."

"O rabo enlaça as pernas:
É o inconsciente que fala pra gata ficar quieta
e não sair por aí
vagando noite e dia
atrás de um certo gato,
de vida fácil,
vadia,
que por não saber amar
não pode lhe trazer alegria."
Nina Victor

domingo, fevereiro 17



O mundo parece-nos muito vazio, se só pensamos em montanhas, rios e cidades…,

mas se há alguém, em algum lugar, que pensa em nós e sente como nós e que, apesar da distância, está perto em espírito, então a terra converte-se num jardim habitado.

Goethe
Se tens um amigo carinhoso, amável, cordial e compreensivo, cultiva-o, com esmero e atenção
porque é um fruto doce, muito doce, num mundo amargo, muito amargo.
M. Sarmiento Vargas



comics


O sax me injeta ciúmes na veia
Barítono ambíguo
Homem-aranha, moça feia
Ela, sem notar, arquiteta a teia
E vira mulher-gato
olhe a foto
Homem-mosca,
mulher-porcelana
Todos fazem parte da trama.
Eu, moça-vitral, fruta cristalizada
Será que sou amada?
.........................Greta Benitez

Amor  
de brisa e vento,   
Catavento      
 Lady Vania

eu sou vertical

Mas não que não quisesse ser horizontal.
Não sou árvore com minha raiz no solo
Sugando minerais e amor materno
Para a cada março refulgir em folha,
Nem sou a beleza de um canteiro
Colhendo meu quinhão de Ohs e me exibindo em cor,
Desconhecendo que me despetalo em breve.
Comparados a mim, uma árvore é imortal
E um pendão nada alto, embora mais assombroso,
O que eu quero é a longevidade de uma e a audácia do outro.
À luz infinitesimal das estrelas,
Flores e árvores trescalam seus frios perfumes.
Eu me movo entre elas, mas nenhuma me nota.
Chego a pensar que pareço o mais perfeitamente
Com elas quando estou dormindo
—Os pensamentos esmaecem.
É mais natural para mim deitar
.Céu e eu então animamos a prosa,
Hei de servir no dia em que deitar afinal:
E as árvores aí talvez em mim tocassem e as flores comigo se ocupassem.
Sylvia Plath.



Pobres das margens flácidas do Ipiranga,
que perpetuam a imagem desgastada
da fome bradando no povo heróico
e dos fugidios raios da liberdade
empenhorada, já há muito, aos donos do mundo
Nosso braço forte foi subjugado,
e, mesmo despojado,
desafia nosso peito a própria morte
Salve, salve Brasil
de céus, matas, terras e povo formosos;
gigante pela própria natureza
e pela eterna desordem e malandragem,
seja perante a resplandecente imagem do
Cristo Redentor
ou no berço de miséria sob o Lacerda
Mas saiba, Pátria atada:
seus filhos ainda a amam
Mesmo enforcados pelos bárbaros
- sejam do norte ou do oriente -
reergueremos a clava forte
e não fugiremos à luta... em nós mesmos
Dependência e Morte!
- Triste a nossa sina!
Antônio Massa

O desejo...


O desejo tem a alquimia
de um beijo
Bebido lentamente
devorando os prazeres
(Van)