sexta-feira, setembro 17



Sobre amar...


"Há mulheres que querem que o seu homem seja o Sol. O meu quero o nuvem.
Há mulheres que falam na voz do seu homem. O meu que seja calado e eu, nele, guarde meus silêncios.
Para que ele seja a minha voz quando Deus me pedir contas.
No resto, quero que tenha medo e me deixe ser mulher, mesmo que nem sempre sua. Que ele seja homem em breves doses. Que exista em marés, no ciclo das águas e dos ventos. E, vez em quando, seja mulher, tanto quanto eu. As suas mãos as quero firmes quando me despir. Mas ainda mais quero que ele me saiba vestir. Como se eu mesma me vestisse e ele fosse a mão da minha vaidade.
Há muito tempo, me casei, também eu. Dispensei uma vida com esse alguém. Até que ele foi. Quando me deixou, já não me deixou a mim. Que eu já era outra, habilitada a ser ninguém.
Às vezes, contudo, ainda me adoece uma saudade desse homem. Lembro o tempo em que me encantei, tudo era um princípio. Eu era nova, dezanovinha.
Quando ele me dirigiu palavra, nesse primeiríssimo dia, dei conta de que, até então, nunca eu tinha falado com ninguém. O que havia feito era comerciar palavra, em negoceio de sentimento.
Falar é outra coisa, é essa ponte sagrada em que ficamos pendentes, suspensos sobre o abismo.
Falar é outra coisa, vos digo. Dessa vez, com esse homem, na palavra eu me divinizei.
Como perfume em que perdesse minha própria aparência.
Me solvia na fala, insubstanciada."

Mia Couto

quinta-feira, setembro 16


''Podemos sair de casa há anos, e o quarto que abandonamos é conservado pelos pais. Não modificam uma vírgula de nossa letra. Não alugam, não fazem reforma, não mudam as estantes, não trocam a pintura, a fechadura e os tapetes. Nós alteramos a infância, não os pais, que em qualquer idade nos enxergarão pequenos. Nos enxergarão como se ainda fosse possível resolver a tristeza e a dor com um colo.

Quando voltamos para residência familiar, separados ou exilados, desempregados ou desencantados, descobrimos o quanto eles nos amam. Amam a criança que fomos. Nenhuma boneca foi jogada fora, enfileiradas pelo tamanho. Nenhum carinho desperdiçado. As canetas coloridas da escola guardam tinta. As agendas estão na gaveta, com as fotos dos amigos e as primeiras confidências. Os pôsteres das bandas de rock, que hoje nem fazem sentido, permanecem atrás da porta branca. As revistas proibidas seguem escondidas em uma madeira solta debaixo da cama. A mesma cômoda onde escrevemos cartas de amor e varamos a noite estudando para provas. O mesmo abajur preto, com problemas de contato. O mesmo enxoval, como se tivéssemos passado um longo final de semana fora (um final de semana que pode ter durado vinte anos), e retornássemos de uma hora para outra. O mesmo travesseiro com cheiro de nosso pijama. Os mesmos cabides e espelho. Até a pantufa nos aguarda, com a plumagem desalinhada de ovelha.

Tudo em ordem e recente, a apagar que lacramos a porta com um adeus, a esquecer que viramos o rosto para sermos felizes com nossas famílias. Os filhos são dramáticos e se despedem com adeus, mas vão voltar e voltam, mesmo que seja para se despedir verdadeiramente.

E não é apenas a aparência do quarto que resiste intacta. É o jeito como os pais nos tratam, sem censura e castigo, sem julgar as escolhas e precipitar arrependimentos. Em silêncio, a mãe fará o bolo de laranja predileto. Ruidoso, o pai perguntará se não queremos caminhar com ele. Ao sair, a mãe dirá para não esquecer o casaco, o pai avisará para nos cuidar e voltar cedo. O tratamento é idêntico, insuportavelmente idêntico à adolescência. A velhice não ameaça o amor.

Apesar de confiarmos que somos outros, os pais continuam nossa vida. Não interessa a cor de cabelo, a tatuagem, o piercing, a cicatriz, a ferida, a alegria ressentida, os fios grisalhos e os divórcios, os pais acreditam que somos os mesmos. Somos as crianças que eles deixaram crescer.''


Carpinejar

'Diferente é o que: chora onde outros xingam; quer, onde outros cansam;
espera, de onde já não vem; sonha, entre realistas; concretiza, entre sonhadores;
fala de leite em reunião de bêbados; cria, onde o hábito rotiniza;
perde horas em coisas que só ele sabe importantes;
diz sempre na hora de calar; cala sempre nas horas erradas;
fala de amor no meio da guerra; deixa o adversário fazer o gol
porque gosta mais de jogar que de ganhar; aprendeu a superar o riso,
o deboche, o escárnio e a consciência dolorosa de que a média é má porque é igual;
vê mais longe do que o consenso; sente antes dos demais começarem a perceber;
se emociona enquanto todos em torno agridem e gargalham.'




Artur da Távola

domingo, setembro 12


Urgent Désir
Lara Fabian

Pequena rosa, abandonada
Procura um jardim carinhoso
Para cultivar a ternura
Perto de uma grande casa florida

Pequeno navio fugindo do inverno
Procura um capitão ao longo do seu curso
Para comandar uma viagem
Num oceano de amor


Desejo urgente
Te encontrar
Seja para a vida
Seja pelo verão
Apagar tudo
Recomeçar
Desejo urgente

Eu sou uma mulher doce e felina
E nas noites tenho um corpo andalúsio
O amor me rende aos seus abraços
Eu ignoro as proibições
Se você tem alma de um poeta
E você acha que está bem da cabeça
Se seu coração está feliz
Eu saberei dizer "Eu te amo"


Desejo urgente
Te encontrar
Seja para a vida
Seja pelo verão
Medo de morrer
Sem ser amada
Sem te encontrar mais uma vez...


"Cuida-te, quando fazes chorar uma mulher, pois Deus conta as suas lágrimas. A mulher foi feita da costela do homem, não dos pés para ser pisada, nem da cabeça para ser superior, mas sim do lado para ser igual... debaixo do braço para ser protegida e do lado do coração para ser amada!"

do Talmude