quarta-feira, setembro 24


A alegria do pecado às vezes toma conta de mim

E é tão bom não ser divina

Me cobrir de humanidade me fascina

e me aproxima do céu

e eu gosto de estar na Terra cada vez mais

minha boca se abre e espera

o direito ainda que profano

do mundo ser sempre mais humano,

perfeição demais me agita os instintos.




Quem se diz muito perfeito

na certa encontrou um jeito insosso

pra não ser de carne osso

pra não ser carne osso

Paulinho Moska
Fly me to the moon,
(Voe comigo para a lua)
and let me play among the stars.
(E deixe-me brincar entre as estrelas)
Let me see what spring is like on Jupiter and Mars.
(Deixe-me ver qual primavera á como em Júpiter e Marte)
In other words, hold my hand!
(Em outras palavras, segure minha mão)
In other words, darling, kiss me!
(Em outras palavras, querido, beije-me)

Fill my heart with song,
(Encha meu coração com essa canção)
and let me sing forever more.
(E deixe-me cantar para além do sempre)
You are all I long for, all I worship and adore.
(Você é tudo que eu dejeso para, tudo que eu venero e adoro)
In other words, please be true!
(Em outras palavras, seja verdadeiro)
In other words, I love you!
(Em outras palavras, eu te amo)

Fly me to the moon,
(Voe comigo para a lua)
and let me play among the stars.
(E deixe-me brincar entre as estrelas)
Let me see what spring is like on Jupiter and Mars.
(Deixe-me ver qual primavera á como em Júpiter e Marte)
In other words, hold my hand!
(Em outras palavras, segure minha mão)
In other words, darling, kiss me!
(Em outras palavras, querido, beije-me)

Fill my heart with song,
(Encha meu coração com essa canção)
and let me sing forever more.
(E deixe-me cantar para além do sempre)
You are all I long for, all I worship and adore.
(Você é tudo que eu dejeso para, tudo que eu venero e adoro)
In other words, please be true!
(Em outras palavras, seja verdadeiro)
In other words, I love you!
(Em outras palavras, eu te amo)

Only you...
(Somente você...)
Only you!
(Somente você!)

Fill my heart with song,
(Encha meu coração com essa canção)
and let me sing forever more.
(E deixe-me cantar para além do sempre)
You are all I long for, all I worship and adore.
(Você é tudo que eu dejeso para, tudo que eu venero e adoro)
In other words, please be true!
(Em outras palavras, seja verdadeiro)
In other words, I love you!
(Em outras palavras, eu te amo)

In other words, I love you!
(em outras palavras, eu te amo)


terça-feira, setembro 23



Vai alta no céu a lua da Primavera
Penso em ti e dentro de mim estou completo.

Corre pelos vagos campos até mim uma brisa ligeira.
Penso em ti, murmuro o teu nome; e não sou eu: sou feliz.

Amanhã virás, andarás comigo a colher flores pelo campo,
E eu andarei contigo pelos campos ver-te colher flores.
Eu já te vejo amanhã a colher flores e andares comigo pelos campos,
Pois quando vieres amanhã e andares comigo no campo a colher flores,
Isso será uma alegria e uma verdade para mim.

Alberto Caieiro in O guardador de rebanhos




Banhada pelo medo
de ser possuída
na correnteza
dos versos teus,
fiquei à tua margem
onde pensei estar segura
...
Fui fatalmente
empreenhada
pela doce poesia do teu leito

Lília Diniz

APAIXONADA



Oswaldo Antônio Begiato

Vens e dizes estar
Dissolutamente apaixonada.
Que sou tua reta e indivisa vida,
Que todas as tuas pertenças
São agora minhas pertenças:
Teu riso incontido,
Tuas lágrimas safíricas,
Teu sexo sequioso,
Teus descaminhos justos,
Teus arrependimentos tolos,
Teu coração indômito...

Até tuas mais incertas tristezas
Juras que me pertencem.
Juras que me pertencem
Todas as tuas juras.

E fico eu cá no meu canto
Tentando buscar a razão disso tudo.
O que em mim pode ter te encantado tanto,
Se sou, dentre os grãos dourados
Da areia da praia, o menorzinho
E você quase contém o mar todinho
Apenas em um único e terno olhar?

Teria sido a poesia que fingi escrever,
Ou os encantamentos delatores
Que de meus olhos escaparam
A primeira vez que te encontraram
Vestida de primavera e sol?

segunda-feira, setembro 22




Vai alta no céu a lua da Primavera
Penso em ti e dentro de mim estou completo.

Corre pelos vagos campos até mim uma brisa ligeira.
Penso em ti, murmuro o teu nome; e não sou eu: sou feliz.

Amanhã virás, andarás comigo a colher flores pelo campo,
E eu andarei contigo pelos campos ver-te colher flores.
Eu já te vejo amanhã a colher flores e andares comigo pelos campos,
Pois quando vieres amanhã e andares comigo no campo a colher flores,
Isso será uma alegria e uma verdade para mim.

Alberto Caieiro in O guardador de rebanhos

Eu hoje tive um pesadelo e levantei atento a tempo
Eu acordei com medo e procurei no escuro
Alguém com seu carinho e lembrei de um tempo

Porque o passado me traz uma lembrança
Do tempo que eu era criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço ou um consolo

Hoje eu acordei com medo, mas não chorei
Nem reclamei abrigo
Do escuro, eu via um infinito sem presente
Passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo,
era uma coisa sua que ficou em mim, que não tem fim

De repente a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua
Que vai ficando no caminho

Que é escuro e frio, mas também bonito
Porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu
Há minutos atrás



Cazuza e Frejat




“... pois desde que te vejo por um instante, não me é mais possível articular uma palavra: mas minha língua se quebra e um fogo sutil desliza de repente sob a minha pele: meus olhos não têm olhar, meus ouvidos zumbem, o suor escorre pelo meu corpo, um arrepio toma conta de mim; fico mais verde do que o capim, e por pouco me sinto morrer.”

Safo

Quando os amantes dormem



Quando as pessoas se amam e querem se amar, selam um pacto: dormir juntas.
E quando se fala "dormir juntos" o sentido é duplo:
significa primeiro amar acordado em plena vigília da carne, mas,
depois, na lassidão do pós-gozo, deixar os corpos lado a lado, à deriva, dormindo, talvez.
Na verdade, os amantes, quando são amantes mesmo, mesmo enquanto dormem se amam.

Agora ouço esses versos de Aragón cantados por Ferat:
"Durante o tempo que você quiser nós dormiremos juntos".
E penso. É um projeto de vida, dormir juntos, continuamente.
A mesma ambigüidade: dormir/amar juntos, dormir/acordar juntos, ou então,
dormir/morrer de amor juntos.

Deve ser por causa disto que os franceses chamam o orgasmo de "pequena morte".
Deve ser por isto que os amantes julgam poder continuar amando mesmo através da morte,
como Inês de Castro e D. Pedro, que foram sepultados um diante do outro,
para que no dia do reencontro um seja o primeiro que o outro veja.
Amor: um projeto de vida, um projeto de morte.

Se numa noite dessas o vento da insônia soprar em suas frestas,
repare no corpo dormindo despojado ao seu lado.
Ver o outro dormir é negócio de muita responsabilidade.
Mais que ver as águas de um rio represado gerando uma usina de sonhos,
é ver uma semente na noite pedindo um guardião.
Pode ser banal, mas é isto: amar é ser o guardião do sonho alheio.
Os surrealistas diziam: o poeta enquanto dorme trabalha.
Pois os amantes enquanto dormem, se amam.
Se amam inconscientemente, quando seus desejos enlaçam raízes e seivas.
O pé de um toca o pé do outro, a mão espalmada corre sobre o lençol e toca o corpo alheio e, dormindo, se abraçam animados.
Quando isso ocorre, pode ter vários significados.
Talvez um tenha lançado um apelo silencioso ao outro:
"Ajude-me a atravessar esse sonho", ou:
"Venha, sonhe esse sonho comigo, é bonito demais".
E o outro, às vezes, sem se mexer, parte em seu socorro.
É que certos sonhos, sobretudo os de quem ama, não cabem num só corpo.
Transbordam os poros da noite e pedem cumplicidade.
E se há um pesadelo, aí um se agarra ao tronco do outro na crispação do instante,
e o corpo do parceiro é bóia na escuridão.
Por isto, no ritual do casamento,
quando o sacerdote indaga se os que se amam sabem que terão que se socorrer
na saúde e na doença, na opulência e na miséria etc...
deveria se inserir um tópico a mais e advertir:
amar é ser cúmplice do sonho alheio.

Passar a metade da vida dormindo ao lado do outro.
Há pessoas que vivem 25 anos - bodas de prata, 50 anos - bodas de ouro,
75 anos - bodas de diamante - ao lado do outro, e não sabem com que o outro sonha.
E há quem passe uma tarde, uma noite ou uma temporada ao lado de um corpo e
sabe seus sonhos para sempre.
Engana-se quem escuta o silêncio no quarto dos que amam.
Estranhos rumores percorrem o sonho alheio.
Não é o rugir do tigre pelas brenhas.
Não é o bater das ondas na enseada.
Nem os pássaros perfurando a madrugada.
São os sonhos dos amantes em plena elaboração.

E se numa noite dessas o vento da insônia de novo soprar em suas frestas,
olhe pela janela os muitos apartamentos onde pulsam dormindo os amorosos.

Quando se compra um apartamento novo, nas alturas,
alguns compram lunetas e ficam vasculhando a vida alheia.
Mas para ouvir o ruído dos sonhos basta abrir os ouvidos na escuridão.
Os sonhos pulsam na madrugada.

Era uma vez um chinês que toda vez que sonhava com sua amada acordava perfumado.
Deve ser por isso que, ainda hoje, o quarto dos amantes amanhece com um perfume
de almíscar, lavanda e alfazema.

E é comum achar troféus dos sonhos ao pé da cama de quem ama.
Quando se abre a pálpebra do dia, aí pode-se ver um unicórnio de ouro e uma coroa de rubis.
À noite os sonhos dos amantes se cristalizam e de dia se liqüefazem em beijos e lágrimas.
Quem ama diz boa-noite como quem abre/fecha a porta de um jardim.
Não apenas como quem viaja, mas como quem vai para a colheita.
Quando se ama, acontece de um habitar o sonho do outro, e fecundá-lo.

Affonso Romano de Sant'Anna - in O homem que conheceu o amor

Recebi esse selo da Paty e repasso para:

domingo, setembro 21


Querido Helano,
Hoje eu comprei sementes de girassol.
Há isso de extraordinário no mundo.
Quando alguém se sente só ou com saudade de outrém
pode comprar sementes de girassol para vê-lo crescer.
Pode até fazer uma sementeira de tulipas.
Neste caso, é preciso aguar todos os dias,com a ponta dos dedos,
deixando cair uma ou duas gotas, apenas.
Já as coisas abrutalhadas, máquinas, tratores ou edifícios,
deixo aos outros, cuidarem.Também elas precisam de carícias:
não vê o homem pendurado nas vidraças com um pano molhado?
Não vê a máquina acarinhando a outra com a lixa?
Há muitas formas de cuidar.
E, felizmente, o delicado e o bruto na esfera do mundo.
Se me ocupo da semente é porque escuto o seu silêncio.
O silêncio com que ela abraça, tão brandamente, o seu grãozinho de terra.

Rita Apoena




De pé na frágil tábua
onda a onda ele escrevia
poesia sobre a água
.


Era uma escrita tão una
de tão perfeita harmonia
que o que ficava na espuma


não se podia apagar:
era a própria grafia
do poema do mar.

Manuel Alegre


Lili (Hi Lili, hi lo)

Um passarinho me ensinou
Uma canção feliz
E quando solitário estou
Mais triste do que triste sou
Recordo o que ele me ensinou
Uma canção que diz:
Eu vivo a vida cantando
Hi, Lili, hi, Lili, hi lo
Por isso sempre contente estou
O que passou, passou
O mundo gira depressa
E nessas voltas eu vou
Cantando a canção tão feliz que diz
Hi, Lili, hi, Lili, hi lo
Por isso é que sempre contente estou
Hi, Lili, hi, Lili, hi lo

Aquilo que pedimos aos céus


na maioria das vezes


se encontra em nossas mãos.


William Shakespeare




Alguns escrevem pela arte,
pela linguagem,
pela literatura.
Esses, sim, são os bons.
Eu só escrevo para fazer afagos.
E porque eu tinha de encontrar um jeito
de alongar os braços.
E estreitar distâncias.
E encontrar os pássaros:
há muitas distâncias em mim
(e uma enorme timidez).
Uns escrevem grandes obras.
Eu só escrevo bilhetes para escondê-los,
com todo cuidado,
embaixo das portas.


Rita Apoena


Ah, que a mulher dê sempre a impressão de que se fechar os olhos

Ao abri-los ela não estará mais presente

Com seu sorriso e suas tramas.

Que ela surja, não venha; parta, não vá

E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer beber

O fel da dúvida. Oh, sobretudo

Que ela não perca nunca, não importa em que mundo

Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade

De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma

Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave



Vinícius de Moraes

Há gente que, em vez de destruir, constrói;


em lugar de invejar, presenteia;


em vez de envenenar, embeleza;


em lugar de dilacerar, reúne e agrega.


Lya Luft

"Os opostos se distraem

Os dispostos se atraem"


teatro mágico



A pintura é poesia



sem palavras.


Voltaire

A minha bicicleta
só tem dois pedais
mas se monto nela
não tem dois, tem mais !

A minha bicicleta
tem um guiador
quando monto nela...
...sou aviador!


No jardim onde ando
não vejo um canteiro...
sou aviador,
vejo o mundo inteiro


Voo mesmo a sério !...


Por cima das árvores
(não toco no chão!)
voo mesmo a sério
vou de avião...

A minha bicicleta
também tem selim
mas eu nem me sento,
gosto mais assim:


Pedalo em pé
dá mais rapidez
a minha bicicleta
é o que tu vês:


É um avião,
pois eu não te digo?!


Da próxima vez...

Da próxima vez
Levo-te comigo!

(Fernando Miguel Bernardes)

Imagina


Tom Jobim/Chico Buarque


Imagina, imagina
Hoje à noite a gente se perder
Imagina, imagina
Hoje à noite a lua se apagar
Quem já viu a lua cris?
Quando a lua começa a murchar
Lua cris
É preciso gritar e correr, socorrer o luar
Meu amor,
Abre a porta prá noite passar
E olha o sol da manhã
Olha a chuva, olha a chuva
Olha o sol
Olha o dia a lançar serpentinas
Serpentinas pelo céu, sete fitas coloridas
Sete vias
Sete vidas, avenidas, prá qualquer lugar
Imagina, imagina, imagina, imagina
Sabe que o menino que passar debaixo do arco-íris, vira moça vira
A menina que cruzar de volta o arco-íris rapidinho volta a ser rapaz
A menina que passou no arco
Era o menino que passou no arco
E vai virar menina
Imagina, imagina, imagina, imagina, imagina
Hoje à noite a gente se perder
Imagina, imagina

Hoje à noite, a lua se apagar

Moça na cama




Papai tosse, dando aviso de si,
vem examinar as tramelas, uma a uma.
A cumeeira da casa é de peroba do campo,
posso dormir sossegada. Mamãe vem me cobrir,
tomo a bênção e fujo atrás dos homens,
me contendo por usura, fazendo render o bom.
Se me tocar, desencadeio as chusmas,
os peixinhos cardumes.
Os topázios me ardem onde mamãe sabe,
por isso ela me diz com ciúmes:
dorme logo, que é tarde.
Sim, mamãe, já vou:
passear na praça em ninguém me ralhar.
Adeus, que me cuido, vou campear nos becos,
moa de moços no bar, violão e olhos
difíceis de sair de mim.
Quando esta nossa cidade ressonar em neblina,
os moços marianos vão me esperar na matriz.
O céu é aqui, mamãe.
Que bom não ser livro inspirado
o catecismo da doutrina cristã,
posso adiar meus escrúpulos
e cavalgar no topor
dos monsenhores podados.
Posso sofrer amanhã
a linda nódoa de vinho
das flores murchas no chão.
As fábricas têm os seus pátios,
os muros tem seu atrás.
No quartel são gentis comigo.
Não quero chá, minha mãe,
quero a mão do frei Crisóstomo
me ungindo com óleo santo.
Da vida quero a paixão.
E quero escravos, sou lassa.
Com amor de zanga e momo
quero minha cama de catre,
o santo anjo do Senhor,
meu zeloso guardador.
Mas descansa, que ele é eunuco, mamãe.

Adélia Prado