sábado, junho 21

Poema das Árvores



As árvores crescem sós. E a sós florescem.

Começam por ser nada. Pouco a pouco
se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.

Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,
e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.

Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,
e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,
e os frutos dão sementes,
e as sementes preparam novas árvores.

E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.
Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.
Sós.
De dia e de noite.
Sempre sós.

Os animais são outra coisa.
Contactam-se, penetram-se, trespassam-se,
fazem amor e ódio, e vão à vida
como se nada fosse.

As árvores não.
Solitárias, as árvores,
exauram terra e sol silenciosamente.
Não pensam, não suspiram, não se queixam.
Estendem os braços como se implorassem;
com o vento soltam ais como se suspirassem;
e gemem, mas a queixa não é sua.

Sós, sempre sós.
Nas planícies, nos montes, nas florestas,
a crescer e a florir sem consciência.

Virtude vegetal viver a sós
e entretanto dar flores.

António Gedeão

Chove uma grossa chuva inesperada

que a tarde não pediu mas agradece.

Chove na rua, já de si molhada

duma vida que é chuva e não parece.

Chove, grossa e constante,

uma paz que há-de ser.

Uma gota invisível e distante

na janela, a escorrer.


Miguel Torga




"Olhos postos na terra



tu virás, no ritmo da própria primavera



e como as flores e os animais



abrírás as mãos de quem te espera."






Eugénio de Andrade

sexta-feira, junho 20


No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas
que o vento não conseguiu levar:
um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento...

(Mario Quintana)

Cantas. E fica a vida suspensa.

É como se um rio cantasse:

em redor é tudo teu;

mas quando cessa o teu canto

o silêncio é todo meu.



Eugénio de Andrade




Vem.

Adormece encostada a este braço

Mais débil do que o teu.

Entrega-te despida

Nas mãos de um homem solitário

Que a maldição não deixa

Que possa nem sequer lutar por ti.

Vem,

Sem que eu te chame, ou te prometa a vida.

E sente que ninguém,

No descampado deste mundo, tem

A alma mais guardada e protegida


Miguel Torga

na esperança dos teus olhos


Eu ouvi no meu silêncio o prenúncio de teus passos
Penetrando lentamente nas solidões de minha espera
E tu eras, coisa linda, me chegando dos espaços
Como a vinda impressentida de uma nova primavera
Vinhas cheia de alegria, coroada de grinaldas
Com sorrisos onde havia burburinhos de água clara
Cada gesto que fazias semeava uma esperança
E existiam mil estrelas nos olhares que me davas
Ai de mim, eu pus-me a amar-te, pus-me a amar-te mais ainda
Porque a vida no meu peito se fizera num deserto
E tu apenas me sorrias, me sorrias, coisa linda
Como a fonte inacessível que de súbito está perto
Pelas rútilas ameias do teu sorriso entreaberto
Fui subindo, fui subindo no desejo de teus olhos
E o que vi era tão lindo, tão alegre, tão desperto
Que do alburno do meu tronco despontaram folhas novas.
E eu te juro, coisa linda: vi nascer a madrugada
Entre os bordos delicados de tuas pálpebras meninas
E perdi-me em plena noite, luminosa e espiralada
Ao cair no negro vórtice letal de tuas retinas.
E é por isso que eu te peço: resta um pouco em minha vida
Que meus deuses estão mortos, minhas musas estão findas
E de ti eu só quisera fosses minha primavera
E só espero, coisa linda, dar te muitas coisas lindas....
- Vinicius de Moraes





“Cada vez que o reino humano me parece condenado ao peso,
digo para mim mesmo que, à maneira de Perseu,
eu devia voar para outro espaço.
Não se trata absolutamente de fuga para o sonho ou o irracional.
Quero dizer que preciso mudar de ponto de observação,
que preciso considerar o mundo sob uma ótica, outra lógica,
outros meios de conhecimento e controle.
As imagens de leveza que busco não devem,
em contato com a realidade presente e futura,
dissolver-se como sonhos…”

Ítalo Calvino

A moça tecelã (Trecho)





Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.

Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.

Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.

Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos recordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.

Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.

Assim, jogando a lançadeira de um lado para o outro e batendo os grandes pentes do tear para a frente e para trás, a moça passava seus dias.

Marina Colasanti

quinta-feira, junho 19

No Pão de Açúcar
de cada dia
dai-nos Senhor
a poesia de cada dia
Oswald de Andrade

Infinito Particular


Eis o melhor e o pior de mim
O meu termômetro, o meu quilate
Vem, cara, me retrate
Não é impossível
Eu não sou difícil de ler
Faça sua parte
Eu sou daqui, eu não sou de Marte
Vem, cara, me repara
Não vê, tá na cara, sou porta bandeira de mim
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular
Em alguns instantes
Sou pequenina e também gigante
Vem, cara, se declara
O mundo é portátil
Pra quem não tem nada a esconder
Olha minha cara
É só mistério, não tem segredo
Vem cá, não tenha medo
A água é potável
Daqui você pode beber
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular


Arnaldo Antunes, Marisa Monte, Carlinhos Brown
Ter um sonho, um sonho lindo, Noite branda de luar, Que se sonhasse a sorrir… Que se sonhasse a chorar… Ter um sonho, que nos fosse A vida, a luz, o alento, Que a sonhar beijasse doce A nossa boca… um lamento… Ser pra nós o guia, o norte, Na vida o único trilho; E depois ver vir a morte Despedaçar esses laços!… …É pior que ter um filho Que nos morresse nos braços! Florbela Espanca

"Sentiu-se mulher. Passado o período da menstruação, sentia-se inteira, poderosa, vitaminada. Tomou atitudes pensadas, comprou apenas o necessário, trabalhou, concentrou-se, usou lingerie sexy, fez escova no cabelo, combinou sapatos e bolsa, lembrou de pegar o guarda-chuva, pagou a conta do cartão de crédito, teve paciência com a mãe. Durante esses dias, foi um mulherão.

Aí, cansou-se. Ficou com dor nas costas, nas pernas, sentiu-se gorda, percebeu novas rugas no rosto, usou calcinhas gigantescas, saias compridas, cabelo preso, nada de maquiagem. Não teve vontade de sair e acompanhou até a novela das oito. Naquela semana, virou velhinha.

De repente passou a agir como criança. Surpreendeu-se com a pistola na cadeira do dentista, chorou por qualquer coisinha, ficou birrenta, manhosa, queria o colo da mãe, queria ser filha, queria tetê, comidinha predileta, carinho, ficar a noite inteira com o namorado fazendo nhenhenhém (que nada mais é do que manha), dormir de colherinha. Pediu um Mac Lanche Feliz, brincou com os brindes, usou calcinhas floridinhas, assistiu filme da Disney... Percebeu que estava de TPM.

Então veio o alívio. A menstruação chegou e ela virou... mocinha! Sim, uma "aborrescente" de marca maior. Ligou para todas as amigas para contar os detalhes do final de semana, fez brigadeiro e comeu quente, na panela, ouviu uma rádio poper� no último volume, desconfiou do namorado, teve vontade de fumar, bebeu um pouquinho e logo chapou, teve cólicas, usou calcinhas coloridas, temáticas ("Fuck me", "Dangerous", "Here!") e depois de uma semana, finalmente, sentiu-se mulher novamente.

Tudo isso em apenas um mês. Todos os meses."

Renata Oxendorff

Sintaxe À Vontade


Sem horas e sem dores
Respeitável público pagão
a partir de sempre
toda cura pertence a nós
toda resposta e dúvida
todo sujeito é livre para conjugar o verbo que quiser
todo verbo é livre para ser direto e indireto
nenhum predicado será prejudicado
nem tampouco a vírgula, nem a crase nem a frase e ponto final!
afinal, a má gramática da vida nos põe entre pausas, entre vírgulas
e estar entre vírgulas pode ser aposto
e eu aposto o oposto que vou cativar a todos
sendo apenas um sujeito simples
um sujeito e sua oração
sua pressa e sua verdade,sua fé
que a regência da paz sirva a todos nós... cegos ou não
que enxerguemos o fato
de termos acessórios para nossa oração
separados ou adjuntos, nominais ou não
façamos parte do contexto da crônica
e de todas as capas de edição especial
sejamos também o anúncio da contra-capa
mas ser a capa e ser contra-capa
é a beleza da contradição
é negar a si mesmo
e negar a si mesmo
pode ser também encontrar-se com Deus
com o teu Deus
Sem horas e sem dores
Que nesse encontro que acontece agora
cada um possa se encontrar no outro
até porque...

tem horas que a gente se pergunta...
por que é que não se junta
tudo numa coisa só?

Sintaxe À Vontade
O Teatro Mágico
Composição: Fernando Anitelli

quarta-feira, junho 18

Classificados poéticos



Perdi maleta cheia de nuvens
e de flores
maleta onde eu carregava
todos os meus amores embrulhados
em neblina.
Perdi essa maleta em alguma esquina de algum sonho
e desde então eu ando tristonho
sem saber onde pôr as mãos.
Se andando pelas ruas
você encontrar a tal maleta
por favor me avise em pensamento
que eu largo tudo e venho correndo...
Roseana Murray

Embalo Para Meu Filho

No solar distante
Do país distante,
Mora a princesinha,
Neta do gigante.
Essa princesinha
Loura, delicada,
Vai ser filha minha:
- tua namorada.

(Alphonsus de Guimaraens Filho)

HÁ NOITES


Há noites que são feitas dos meus braços
E um silêncio comum às violetas.
E há sete luas que são sete traços
De sete noites que nunca forarn feitas.

Há noites que levarnos à cintura
Como um cinto de grandes borboletas.
E um risco a sangue na nossa carne escura
Duma espada à bainha dum cometa.

Há noites que nos deixam para trás
Enrolados no nosso desencanto
E cisnes brancos que só são iguais
A mais longínqua onda do seu canto.

Há noites que nos levam para onde
O fantasma de nos fica mais perto;
E é sempre a nossa voz que nos responde
E só o nosso nome estava certo.

Há noites que são lírios e são feras
E a nossa exactidão de rosa vil
Reconcilia no frio das esferas
Os astros que se olham de perfil.

Natália Correia

‘MIMETISMO’


O sábio no jardim sorria
do artifício da borboleta
convertida em folha amarela
Até com manchas e defeitos.

O sábio sorria daquela
mentira. O colorido embuste!
Ó fingimento desenhado
por cegos presságios e sustos!

Para salvar seu breve tempo,
- tempo de inseto! – dom dos vivos;
tinha a borboleta bordado
seu sigiloso mimetismo.

(Atrás das máscaras, que morte
pode alcançar o culto pólo
sensível, no pulsante abismo
onde a hora do existir se acolhe?)

Sendo e não sendo, perto e longe,
escondia-se, ignota e inquieta,
guardando, em paredes de medo,
à esperança da seiva eterna.

O sábio nos jardim sorria
do cauteloso fingimento,
de tênue silêncio expectante
sobre os universais segredos.

Cecília Meireles - Poesias Completas - 1961
...É erótico ver uma mulher que sorri,
que chora, que vacila,
que fica linda sendo sincera,
que fica uma delícia sendo divertida,
que deixa qualquer um maluco sendo inteligente.
Uma mulher que diz o que pensa,
o que sente e o que pretende.
(Martha Medeiros)


O lápis do carpinteiro





E lhe ensinava coisas.
Por exemplo, que o mais difícil de pintar era a neve.
E o mar, e os campos.
(...) Os esquimós, disse-lhe o pintor,
distinguem até quarenta cores na neve,
quarenta espécies de brancura.
Por isso, os que melhor pintam o mar,
os campos e a neve são as crianças.
Porque a neve pode ser verde
e o campo branquear como os cabelos de um velho camponês.

De Manuel Rivas

TRES AMIGAS




Nós nos fizemos amigas pela coincidência de sentimentos na valorização do humilde,no gosto pelo autêntico, na ternura pelas coisas que conservam a sombra de uma presença humana: velhos objetos sem dono, lembranças do passado, restos indefesos do esforço - quase sempre malogrado - de viver. Assim, descobrimos que amávamos o que ninguém mais ama, que tínhamos a alma carregada de retalhos de antigos vestidos, pedaços de louças quebradas, relógios perdidos, retratos irreconhecíveis, livros que se nos desfaziam nas mãos, palavras algum dia ouvidas e como escritos num muro eterno diante de nós. (...) Desejamos que nada se perdesse do que um dia foi feito com a amorosa intenção de durar. Diante de um mundo ingrato e amargo, ávido de imediatismo, ousávamos dirigir também os nossos olhos para o que ia ficando para trás. Para o que se abandonava e esquecia. E ficamos amigas para sempre.


Cecília Meireles

terça-feira, junho 17

E então ficamos os dois em silêncio, tão
quietos
como dois pássaros na sombra, recolhidos
ao mesmo ninho,
como dois caminhos na noite, dois
caminhos
que se juntam
num mesmo caminho...
Já não ouso... já não coras...
E o silêncio é tão nosso, e a quietude
tamanha
que qualquer palavra bateria estranha
como um viajante, altas horas...
Nada há mais a dizer, depois que as
próprias mãos
silenciaram seus carinhos...
Estamos um no outro
como se estivéssemos sozinhos...
J.G. de Araujo Jorge

Herbarium

Numa alegria desatinada
fui colhendo as folhas,
mordi goiabas verdes,
atirei pedras nas árvores,
espantando os passarinhos
que cochichavam seus sonhos,
me machucando de contente
entre a galharia.
Corri até o córrego.
Alcancei uma borboleta e
prendendo-a pelas pontas das asas
deixei-a na corola de uma flor.
Te solto no meio do mel, gritei-lhe.
O que vou receber em troca?

Lygia Fagundes Telles

Meu ideal seria escrever




Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela moça que está doente naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto que chegasse a chorar e dissesse -- "ai meu Deus, que história mais engraçada!". E então a contasse para a cozinheira e telefonasse para duas ou três amigas para contar a história; e todos a quem ela contasse rissem muito e ficassem alegremente espantados de vê-la tão alegre. Ah, que minha história fosse como um raio de sol, irresistivelmente louro, quente, vivo, em sua vida de moça reclusa, enlutada, doente. Que ela mesma ficasse admirada ouvindo o próprio riso, e depois repetisse para si própria -- "mas essa história é mesmo muito engraçada!".

Que um casal que estivesse em casa mal-humorado, o marido bastante aborrecido com a mulher, a mulher bastante irritada com o marido, que esse casal também fosse atingido pela minha história. O marido a leria e começaria a rir, o que aumentaria a irritação da mulher. Mas depois que esta, apesar de sua má vontade, tomasse conhecimento da história, ela também risse muito, e ficassem os dois rindo sem poder olhar um para o outro sem rir mais; e que um, ouvindo aquele riso do outro, se lembrasse do alegre tempo de namoro, e reencontrassem os dois a alegria perdida de estarem juntos.

Que nas cadeias, nos hospitais, em todas as salas de espera a minha história chegasse -- e tão fascinante de graça, tão irresistível, tão colorida e tão pura que todos limpassem seu coração com lágrimas de alegria; que o comissário do distrito, depois de ler minha história, mandasse soltar aqueles bêbados e também aqueles pobres mulheres colhidas na calçada e lhes dissesse -- "por favor, se comportem, que diabo! Eu não gosto de prender ninguém!" . E que assim todos tratassem melhor seus empregados, seus dependentes e seus semelhantes em alegre e espontânea homenagem à minha história.

E que ela aos poucos se espalhasse pelo mundo e fosse contada de mil maneiras, e fosse atribuída a um persa, na Nigéria, a um australiano, em Dublin, a um japonês, em Chicago -- mas que em todas as línguas ela guardasse a sua frescura, a sua pureza, o seu encanto surpreendente; e que no fundo de uma aldeia da China, um chinês muito pobre, muito sábio e muito velho dissesse: "Nunca ouvi uma história assim tão engraçada e tão boa em toda a minha vida; valeu a pena ter vivido até hoje para ouvi-la; essa história não pode ter sido inventada por nenhum homem, foi com certeza algum anjo tagarela que a contou aos ouvidos de um santo que dormia, e que ele pensou que já estivesse morto; sim, deve ser uma história do céu que se filtrou por acaso até nosso conhecimento; é divina".

E quando todos me perguntassem -- "mas de onde é que você tirou essa história?" -- eu responderia que ela não é minha, que eu a ouvi por acaso na rua, de um desconhecido que a contava a outro desconhecido, e que por sinal começara a contar assim: "Ontem ouvi um sujeito contar uma história...".

E eu esconderia completamente a humilde verdade: que eu inventei toda a minha história em um só segundo, quando pensei na tristeza daquela moça que está doente, que sempre está doente e sempre está de luto e sozinha naquela pequena casa cinzenta de meu bairro.

Rubem Braga

Hoje eu quereria apenas abrir um álbum antigo de fotografias, onde não houvesse gente de olhos duros e mãos aduncas. Onde umas boas senhoras pousassem no papel com delicadeza, nãopara sobreviverem eternamente, mas para mandarem seu retrato às amigas com finas letras de "sincera afeição". Um álbum onde aparecessem uns bons velhotes que não faziam negociatas, que não sabiam multiplicar dinheiro, que usavam roupas desajeitadas, sofriam de reumatismo, liam Vírgilio e Horácio, e não tinham medo dos fantasmas do porão.



(...)


Hoje eu quereria ler uns livros que não falam de gente, mas só de bichos,
de plantas, de pedras: um livro que me levasse por essas solidões da Natureza,
sem vozes humanas, sem discursos, boatos, mentiras, calúnias, falsidades,
elogios, celebrações...




Hoje eu quereria apenas ver uma flor abrir-se, desmanchar-se, viver sua existência autêntica,
integral, do nascimento à morte, muito breve, sem borboletas nem abelhas de permeio.
Uma existência total, no seu mistério (e antes da flor? -- não sei) (e depois da flor? -- não sei).
Esta ignorância humana. Este silêncio do universo. A sabedoria.




Hoje eu quereria estar entre as nuvens, na velocidade das nuvens, na sua fragilidade, na sua docilidade de ser e deixar ser. Livremente. Sem interesse próprio. Confiantes. À mercê da vida. Sem nenhum sonho de durarem um pouco mais, de ficarem no céu até o ano 2000, de terem emprego público, férias, abono de Natal, montepio, prêmio de loteria, discurso à beira do túmulo, nome em placa de rua, buasto no jardim...



(...)


Hoje eu quereria estar no deserto amarelo, sem beduíno, camelo ou rebanho de cabras:
no puro deserto amarelo onde só reina o vento grandioso que leva tudo,
que não precisa nem de água, nem de areia, nem de flor, nem de pedra, nem de gente.
O vento solitário que vai para longe de mãos vazias.
Hoje eu queria ser esse vento!


Compensação, de Cecília Meireles

segunda-feira, junho 16

Favo de ternura



Seja a palavra
um favo
de ternura
tu
uma abelha
eu
o poema e o mel.
(...)
João Manuel Ribeiro

domingo, junho 15



(...)
O ódio tem a força de quem se despedaça.
Eu tenho o sofrimento daquilo que se desfaz.
Daniel Faria



Ela tem asas para voar
e tem brilho no olhar.
Ela encanta, ela seduz,
sabe a mágica de amar.

Capaz de ajudar os outros,
cheia de nobres sentimentos.
Dotada de super instintos,
munida de nobres talentos!

Ela é muito transparente
e sabe lidar com a emoção.
No peito carrega um tesouro
chamado de coração.

Teu perfume é suave
ao mesmo tempo intrigante.
Tem um sexto sentido aguçado
e um humor fascinante.

Sua varinha de condão
levam os segredos da vida.
Tua alma é livre e solta,
sua áurea colorida!

É tão cheia de mistérios,
tão forte e tão delicada.
Mas é certo que neste mundo,
toda mulher é uma Fada!


(Mell Glitter)

A vida sempre foi boa comigo.

Quando soube que o meu coração

estava carregado de sombras,

e que ele só se alimentava de luz,

abriu uma janela no meu peito

para que por ele possam entrar

o resplendor do orvalho,o fulgor das estrelas

e o invisível arco-íris do amor.


Thiago de Mello



...Te Vista de Luto...Te Cubra de Vestes Escuras,
Morreu a Tristeza,
Faleceu a Melancolia.
Depressão Morreu de Morte Súbita,
Tarde Corre Depressa,
Ficou Você,
Vitoriosa de Suas Lutas Internas,
Ouvindo Novamente a Melodia da Vida,
Se Amando...Revendo os Tolos Erros,
Recomeçando.
Lágrimas Hoje,Apenas Por Um Tempo
Que Valorizou o Que Não Tinha Valor...
Mas Isso Foi Ontem,
Acabou.

Hoje é Novo Dia,
Conquistar, Adiquirir e Manter.
Sorriso Lindo o Seu...
Hora de Colocar Batom Vermelho
e Ir Satisfeita Para o Enterro,
Para as Coisas Negativas,
Dar Adeus!

_MAXUEL SCORPIANO_






Há flores cobrindo o telhado

E embaixo do meu travesseiro

Há flores por todos os lados

Há flores em tudo que eu vejo



TITÃS

Sol & Fadas


O Sol existe
Para nos aquecer
E iluminar!
As Fadas existem
para nos encantar!

Paty Padilha

'Eu vou me acumulando, me acumulando, me acumulando - até que não caibo em mim e estouro em palavras.'

(Clarice Lispector)

Essência das Coisas



Essa lágrima pura que alumia
Teus olhos, donde vêm?
Mundos de sentimento e de poesia
Em seu cristal contém;
Mas quando, como o orvalho se evapora,
Esse cristal se esvai,
A alma que nele mora
Onde vai?

O suspiro que, efêmero, de leve
A flor do lábio teu,
Escapando-se, agita, morre em breve,
Morre... apenas nasceu!
Mas a essência de amor, de onde, no giro
Momentâneo, ele sai,
A alma desse suspiro
Onde vai?

De teus olhos a luz, a viva, inquieta
E meiga luz que dão,
Poderá se apagar na mais completa
E feia escuridão...
Mas o amor que, entre raios, a atravessa,
O imã com que atrai,
A alma dos olhos, essa
Onde vai?(...)







(E. de La Barra)

"Eu não creio que Deus se importa onde nos graduamos e o que fizemos para ganhar a vida.

Deus quer saber quem nós somos. Descobrir isso é o trabalho da alma - é o nosso verdadeiro trabalho da vida."


Bernie Siegel

(...)
Como dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
embora o pão seja caro
e a liberdade pequena
(...)
Antonieta Dias de Moraes

Outono

Tarde pintada
Por não sei que pintor.

Nunca vi tanta cor
Tão colorida!
Se é de morte ou de vida,
Não é comigo.
Eu, simplesmente, digo
Que há fantasia
Neste dia,
Que o mundo me parece
Vestido por ciganas adivinhas,
E que gosto de o ver, e me apetece
Ter folhas, como as vinhas.
Miguel Torga

Sєlma DєL ßosco°

EXIGÊNCIA

Não só sermos aquilo que nos resta,
Não só termos tudo o que nos basta,
É urgente que a morte seja uma festa
E a vida não seja um tormento que se arrasta!
(Manuel Oliveira)
Beijinhos ...
da Flor
♥prá você!♥

Ternura


Com as estrelas que deixei cair

de minhas asas de borboleta-transparente,

pedi à minha fada-madrinha

que bordasse, com linhas do infinito,

uma noite somente para meu amor



.E com as flores que deixei cair

De minhas folhas de violeta amadurecida,

Pedi ao meu anjo-da-guarda

Que bordasse, com linhas de eternidade,

Um céu branco e lilás

para ser o dia da noite do meu amor.


(Owaldo Antônio Begiato)

“Como as Fadas Pintam as Estrelas”

Fada Azul
Pinta suas estrelas
da cor azul
elas brilham muito
que nem lantejoulas
trazendo alegria, paz e luz
para o Poeta Oswaldo Begiato
Fada Amarela
Vem a noite lá vão elas
Pintar sonhos de aquarelas
Pincelando nas estrelas
As nuances amarelas
Mas te conto um segredo
Que não guardo mais com medo
Minha estrela predileta
Tem tuas cores
meu poeta...
Fada Rosa
Pinta as estrelas,
Que já são maravilhosas...
Muito carinhosa,E cheia de encantos,
Faz com que as estrelas,
Brilhem em todos os cantos.
Fada Ruiva
Pinta as estrelas
Com nuances de vermelho
O Sol de Fogo rege essa Fada
Que ilumina e transmite calor... rsrs


(Graciela da cunha, Bernadette Moscareli, Valquiria Cordeiro e Paty Padilha)

Conselho


Cerca de grandes muros quem te sonhas.


Depois, onde é visível o jardim


Através do portão de grade dada,


Põe quantas flores são as mais risonhas,


Para que te conheçam só assim.


Onde ninguém o vir não ponhas nada.


Faze canteiros como os que os outros têm,


Onde os olhares possam entrever


O teu jardim como lho vais mostrar.


Mas onde és teu, e nunca o vê ninguém,


Deixa as flores que vêm do chão crescer


E deixa as ervas naturais medrar.


Faze de ti um duplo ser guardado;


E que ninguém, que veja e fite, possa


Saber mais que um jardim de quem tu és


Um jardim ostensivo e reservado,


Por trás do qual a flor nativa roça


A erva tão pobre que nem tu a vês...


Fernando Pessoa