quinta-feira, setembro 11





... Mas eu deito-me no teu leito

quando apenas queria dormir em ti.



E sonho-te

quando ansiava ser um sonho teu...



- Mia Couto -

só quem possui

a força de uma amizade


consegue levar a vida

com leveza


Edu.giovanni



SONHO

O sonho é
um gato num quadro
a saltar para o nosso colo.

O sonho é
acreditar que um poema
pode mudar uma vida.

O sonho é
o olhar doce
de quem gosta de nós.

O sonho é
ter sempre
alguém à nossa espera.

O sonho é
a idade sem idade
das coisas que ficam.

O sonho é
não ter nada
e ser senhor de tudo.

O sonho é
ter os pés no chão
e continuar a voar.

O sonho é
fazer de cada palavra
um verdadeiro diamante.

O sonho é
ser verdadeiramente livre
e saber porquê.

- José Jorge Letria, in "O sonho é..."
Quedate...

Apareciste asi
Y fue el destino que nos quizo reunir
Algun camino de otro tiempo mas feliz
te trae denuevo aqui.

Mi vida amanecio
y cada luz de mi universo se encendio
En otro rostro me dijiste: aqui estoy yo
y yo te conoci
y mi vida te ofreci...

Quedate
que este tiempo es nuestro
y el amor tiene ganas de volver
Amor quedate
hoy no te me vayas como ayer

Te fuiste aquella vez
y yo en mis sueños tantas veces te busque
entre los angeles tu voz imagine
asi me conforme...
Pero ahora te encontre.

Quedate
que este tiempo es nuestro
y el amor tiene ganas de volver
amor quedate
no me dejes sola otravez.

Que la noche es larga
si no estoy contigo
Si otra vez me lanzas al avismo
si otra vez te vas......
Quedate....
Porfavor... por siempre...

Quedate
que este tiempo nuevo como el sol
nos abriga el corazon
amor quedate quedate
que no vuelva el frio en el adios

Quedate
que este tiempo es nuestro
y el amor solo quiere renacer
amor quedate quedate
hoy no te me vayas como ayer
hoy no te me vayas como ayer.


Está hoje um dia de vento e eu gosto do vento
O vento tem entrado nos meus versos de todas as maneiras
e só entram nos meus versos as coisas de que gosto
O vento das árvores o vento dos cabelos o vento do inverno o vento do verão
O vento é o melhor veículo que conheço
Só ele traz o perfume das flores só ele traz a música
que jaz à beira-mar em agosto
Mas só hoje soube o verdadeiro valor do vento
O vento actualmente vale oitenta escudos
Partiu-se o vidro grande da janela do meu quarto


Ruy Belo

quarta-feira, setembro 10

E quando duas pessoas maduras estão amando, simplesmente acontece um dos maiores paradoxos da vida, um dos fenômenos mais belos: estão juntas e contudo tremendamente sós; estão tão juntas que são quase uma .
(Osho)



Eu fui para uma floresta de nogueiras,
Porque minha mente estava inquieta,
Eu colhi e limpei algumas nozes,
E apanhei uma cereja, curvando o seu fino ramo;
E, quando as claras mariposas estavam voando,
Parecendo pequenas estrelas, flutuando erráticas,
Eu lancei framboesas, como gotas, em um riacho
E capturei uma pequena truta prateada.
Quando eu a coloquei no chão
E fui soprar para reativar as chamas,
Alguma coisa moveu-se e eu pude ouvir,
E, alguém me chamou pelo meu nome:
Apareceu-me uma jovem, brilhando suavemente
Com flores de maçãs nos cabelos
Ela me chamou pelo meu nome e correu
E desapareceu no ar, como um brilho mais forte.
Talvez eu esteja cansado de vagar em meus caminhos
Por tantas terras cheias de cavernas e colinas, recusar aceitar
ઇ‍ઉ ßë®ñåð놆ë: Eu vou encontrar o lugar para onde ela se foi,
E beijar seus lábios e segurar suas mãos;
Caminharemos entre coloridas folhagens,
E ficaremos juntos até o tempo do fim do tempo, colhendo
As prateadas maçãs da lua,
As douradas maçãs do sol.


William Butler Yeats

UM APÓLOGO


Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:

-Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma cousa neste mundo ?

-Deixe-me, senhora.

Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável?

Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabaça.

Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça.

Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.

Mas você é orgulhosa.

Decerto que sou.

Mas por quê?

É boa ! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?

Você? Esta agora é melhor. Você que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu, e muito eu?

Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados...

Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e mando...

Também os batedores vão adiante do imperador.

Você imperador?

Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo.

Eu é que prendo, ligo, ajunto...

Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela.

Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana – para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:

-Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima...

A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas.

A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura para o dia seguinte;continuou ainda nesse e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.

Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se levava a agulha espetando corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, alinha, para mofar da agulha, perguntou-lhe:

Ora agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá.

Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência,murmurou à pobre agulha: - Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém.

Onde me espetam, fico.

Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanado a cabeça: - Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!
Machado de Assis