quarta-feira, junho 11

Serenidade

Feriram-te, alma simples e iludida.
Sobre os teus lábios dóceis a desgraça,
Aos poucos esvaziou a sua taça
E sofreste sem trégua e sem guarda.
Entretanto, à surpresa de quem passa,
Ainda e sempre, conservas para a Vida,
A flor de um idealismo, a ingênua graça
De uma grande inocência distraída.
A concha azul envolta na cilada
Das algas más, ferida entre os rochedos,
Rolou nas convulsões do mar profundo;
Mas ainda assim, poluída e atormentada,
Ocultando puríssimos segredos,
Guarda o sonho das pérolas no fundo.

(Raul de Leoni)