domingo, julho 6

Dona doida

Uma vez, quando eu era menina, choveu grossocom trovoadas e clarões, exatamente como chove agora.

Quando se pôde abrir as janelas,as poças tremiam com os últimos pingos.

Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema,decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos.

Fui buscar os chuchus e estou voltando agora,trinta anos depois.

Não encontrei minha mãe.

A mulher que me abriu a porta, riu de dona tão velha,com sombrinha infantil e coxas à mostra.

Meus filhos me repudiaram envergonhados,meu marido ficou triste até a morte,eu fiquei doida no encalço.

Só melhoro quando chove.

Adélia Prado

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