sexta-feira, outubro 17

Divagação sobre a palavra dormir


Divagação sobre a palavra dormir

Gostava de te olhar a dormir

mesmo que isso nunca aconteça.

Gostava de te olhar,

a dormir. Gostava de dormir

contigo, entrar

no teu sono, sentir seu fluxo suave e nebuloso

a deslizar sobre a minha cabeça

e caminhar contigo nessa floresta luminosa

ondulante de folhas fluorescentes

com um sol aquoso e três luas

até à caverna onde terás que descer,

em direcção ao teu pior medo

Gostava de te oferecer o ramal de prata,

a pequenina flor branca, aquela

palavra que te protegerá

da dor a meio

do teu sonho, do desgosto

central. Gostava de te acompanhar

até ao cimo da longa escadaria

mais uma vez e de ser

o barco para te transportar de volta

com cuidado, uma chama

entre duas mãos em concha

onde o teu corpo se deita
ao lado do meu, e tal como nele entras

com a facilidade com que se respira

Gostava de ser o ar

que te habita durante um breve

instante. Gostava de se ser tão imperceptível

e tão necessária.

Margaret Atwood

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