segunda-feira, outubro 6


Podei a roseira no momento certo

e viajei muitos dias,

aprendendo de vez

que se deve esperar biblicamente

pela hora das coisas.

Quanto abri a janela, vi-a,

como nunca a vira,

constelada,

os botões,

alguns já com o rosa-pálido

espiando entre as sépalas,

jóias vivas em pencas.

Minha dor nas costas,

meu desaponto com os limites do tempo,

o grande esforço para que me entendam

pulverizaram-se

diante do recorrente milagre.

Maravilhosas faziam-se

as cíclicas perecíveis rosas.

Ninguém me demoverá

do que de repente soube

à margem dos edifícios da razão:

a misericórdia está intacta,

vagalhões de cobiça,

punhos fechados,

altissonantes iras,

nada impede ouro de corolas

e acreditai: perfumes.

Só porque é setembro.


Adélia Prado

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