sexta-feira, setembro 24


Não se afobe não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
num fundo de armário
na posta restante
milênios, milênios
no ar
E quem sabe, então, o Rio será
alguma cidade submersa,
os escafandristas virão
explorar sua casa
seu quarto, suas coisas
sua alma, desvãos
Sábios em vão
tentarão decifrar
oeco de antigas palavras,
fragmentos de cartas, poemas
mentiras, retratos
vestígios de estranha civilização

Não se afobe, não
que nada é pra já
amores serão sempre amáveis
futuros amantes, quiçá,
se amarão sem saber
com o amor que eu um dia
deixei pra você

Chico Buarque

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