sexta-feira, junho 6

O Guardador de Rebanhos


A Criança Eterna acompanha-me sempre.


A direção do meu olhar é o seu dedo apontando.


O meu ouvido atento alegremente a todos os sons


São as cócegas que ela me faz, brincando, nas orelhas.


Damo-nos tão bem um com o outro


Na companhia de tudo


Que nunca pensamos um no outro,


Mas vivemos juntos e dois


Com um acordo íntimo


Como a mão direita e a esquerda.


Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas


No degrau da porta de casa,


Graves como convém a um deus e a um poeta,


E como se cada pedra


Fosse todo um universo


E fosse por isso um grande perigo para ela


Deixá-la cair no chão.(...)



(Alberto Caeiro)