sábado, maio 31

Bolha de sabão é que nem silêncio: a gente pode dizer que não existe. É uma das coisas mais bonitas do mundo: colorida de todas as cores do arco-íris, toda redonda, voando livre, leve e alto. João disse (sem falar) pro menino: a vida da gente pode ser uma bolha de sabão (...). Se a gente aprende a ser colorido, a voar livre, leve e alto até explodir bonito,sem muito barulho, deixando no ar uma gotinha de saudade."
Do livro João Teimoso, de Luiz Raul Machado

sexta-feira, maio 30

Anjos mulheres-VI



As mulheres voam
como os anjos:
Com as suas asas feitas
de cristal de rocha da memória
Disponíveis
para voar
soltas...
Primeirol
entamente:
uma por uma
Depois,
iguais aos pássaros
fundas...
Nadando,
juntas
Secreta:
a rasar o chão
a rasar a fenda
da lua
no menstruo:
por entre a fenda das pernas
Às vezes é o aço
que se prendena luz
A dobrarmos o espaço?
Bruxas:
pomos asas
em vassouras de vento
E voamos
Como as asas
lhe cresciam nas coxas
diziam dela:
que era um anjo do mar
Rondo alto,
postas em nudez de ombros
e pernas
perseguindo,
pelos espaços,lunares
da menstruação
e corpo desavindo
Não somos violência
mas o voo
quando nadamos
de costas pelo vento
até à foz do tempo
no oceano denso
da nossa própria voz
Sabemos distinguir
a dormir
os anjos das rosas voadoras
pelo tacto?Somos os anjos
do destino
com a alma
pelo avesso
do útero
Voamos a lua
menstruadas
Os homens gritam:
– são as bruxas
As mulheres pensam:
– são os anjos
As crianças dizem:
– são as fadas
Fadas?
filigrama cintilante
de asas volteando
no fundo da vagina
Nadamos?
De costas,no espaço deste século
Mudar o rumo
e as pernas mais ao
fundo
portas por trás
dobradas pelos rins
Abrindo o ar
com o corpo num só golpe
Soltas,viando
até chegar ao fim
Dizem-nos:
que nos limitemos ao espaço
Mas nós voamos
também
debaixo de água
Nós somos os anjos
deste tempo
Astronautas,
voando na memória
nas galáxias do vento...
Temos um pacto
com aquilo que
voa– as aves
da poesia
–os anjosdo sexo
–o orgasmodos sonhos
Não há nada
que a nossa voz não abra
Nós somos as bruxas da palavra
Maria Teresa Horta



Consegues




imaginar




o céu sem




o azul? É




assim




que me




faltas.




(Luís Ene)

Finalmente

Desde quando eu era um bebê
Eu tive um sonho
Tema da Cinderela
Louco como parece
Sempre soube que é profundo
Aquilo lá poderia acontecer um dia
Mas eu teria que esperar
Cometer muitos erros
Eu não podia compreender
Como eu assisti isso desdobrar
Essa estória clássica contou que eu deixei
Caminhando através de uma porta não aberta
Que me guiou de volta a você
Aquela destrancada de verdade

Eu finalmente parei de tropeçar na minha juventude
Eu finalmente me perdi dentro de você
Eu finalmente sei que eu preciso crescer
E finalmente encontrei minha alma-gêmea

Finalmente
Agora meu destino pode começar
Embora teremos nossa diferenças
Alguma coisa estranha e nova está acontecendo
Finalmente
Agora minha vida não parece tão ruim
É o melhor que eu já tive
Dar meu amor a ele finalmente

Eu lembrei do começo, você já sabia
Eu agi como uma boba
Apenas tentando ser legal
Enfrentando como se nada importasse
Eu só fugi
Coloquei um outro rosto (uma mascara)
Perdi meu próprio espaço
Descobri como machucar, de forma egoísta
Com medo de desistir
Com medo de apenas acreditar
Eu estava numa posição invejosa, insegura, patético
Tropecei nas armadilhas que eu mesma fiz

Finalmente saí do meu próprio caminho
Eu finalmente comecei a viver para hoje
Eu finalmente sei que preciso crescer
E finalmente encontrei minha alma-gêmea

Finalmente
Agora meu destino pode começar
Embora teremos nossa diferenças
Alguma coisa estranha e nova está acontecendo
Finalmente
Agora minha vida não parece tão ruim
É o melhor que eu já tive
Dar meu amor a ele finalmente

Finalmente, finalmente

Finalmente
Agora meu destino pode começar
Embora teremos nossa diferenças
Alguma coisa estranha e nova está acontecendo
Finalmente
Agora minha vida não parece tão ruim
É o melhor que eu já tive
Dar meu amor a ele finalmente

Finalmente, finalmente, finalmente...

Tristeza




Porque estás assim,
Violeta? Que borboleta
Morreu no jardim?

(Guilherme de Almeida)


(...)
poema não se lê poema, lê-se pão ou flor, lê-se erva
fresca e os teus lábios, lê-se sorriso estendido em mil
árvores ou céu de punhais


poema sou eu,
as minhas mãos nos teus cabelos,
o poema é o meu rosto, que não vejo,
e que existe porque me
olhas,
o poema é o teu rosto


José Luís Peixoto

quinta-feira, maio 29





"Não soube compreender coisa alguma! Devia tê-la julgado pelos atos, não pelas palavras. Ela me perfumava, me iluminava... Não devia jamais ter fugido. Devia ter-lhe adivinhado a ternura sob os seus pobres ardis. São tão contraditórias as flores! Mas eu era jovem demais para saber amar."


Antoine de Saint-Exupéry, O Principezinho
"Lancei
cordas
de campanário
a campanário;
grinaldas
de janela
a janela;
cadeias
de ouro
de estrela
a estrela,e danço"
Jean-Arthur Rimbaud


Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água.
No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.
Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.
Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.
Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha.
Eugênio de Andrade...


tem os que passam


e tudo se passa

com passos já passados



tem os que partem

da pedra ao vidro

deixam tudo partido



e tem, ainda bem,

os que deixam
a vaga impressão

de ter ficado


Alice Ruiz
Alice Ruiz
(...)

As pessoas falam coisas, E por trás do que falam há o que sentem, E por trás do que sentem há o que são e nem sempre se mostra
Há níveis-não-formulados, camadas imperceptíveis,
Fantasias que nem sempre controlamos,
Expectativas que quase nunca se cumprem
E, sobretudo, emoções.
Caio Fernando Abreu

quarta-feira, maio 28



"...Sentir, sem que se veja, a quem se adora
Compreender, sem ouvir, seus pensamentos
Segui-lo, sem poder fitar seus olhos
Amá-lo, sem ousar dizer que amamos...
Arder por afogá-lo em mil abraços
Isso é amor, e desse amor se morre!..."

...Gonçalves Dias

MAR

"Metade da minha alma é feita de maresia."




Sophia de Mello Breyner Andresen

"Todos querem o perfume das flores, mas poucos sujam as suas mãos para cultivá-las."


Augusto Cury

As nuvens podem esconder uma estrela, mas elas passam e a estrela fica.


Luc de Clapiers Vauvenargues

Pelos meus dedos molhados
escorrem largos oceanos.
Pelos meus dedos azuis
desfilam navios esquálidos.
Meus dedos estão cansados
por isto, já nem se fecham:portos vagos abrem-se e deixam
partirem todos os sonhos.Os sonhos vão como mortos
em seus esquifes marinhos
nos corpos sem consistência
pousam anêmonas. Os rostos
entre rochedos opostos desaparecem. Mistério
exibe-se em ar grave e sério
à terra do esquecimento.Restos de brumas aladas
perpassam na maresia.
Minhas mãos já não sustentamq
uilhas contra as águas claras.
Cantam na vela enfunada
ventos de todo quadrante
por mais que busquem o horizonte
o infinito os afasta. - Sou como viageiro estranho
por mais que busque e navegue
do infinito o talvegue
jamais reencontro os sonhos.
Bernadette Lyra
TENTA TE ORIENTAR PELO CALENDÁRIO DAS FLORES,
ESQUEÇE, POR UM MOMENTO, OS NÚMEROS,
A SEMANA ,
O DIA DE TEU NASCIMENTO.
SE CONSEGUIRES SER LEVE, APROVEITA,
ENCHE TUAS MALAS DE SONHO
E TOMA CARONA NO VENTO.

(FERNANDO CAMPANELLA)
Minha tática é
olhar-te
aprender como tu és
querer-te como tu és
minha tática é
falar-te
e escutar-te
construir com palavras
uma ponte indestrutível
minha tática é
ficar em tua lembrança
não sei como nem sei
com que pretexto
porém ficar em ti
minha tática é
ser franco
e saber que tu és franca
e que não nos vendemos
simulados
para que entre os dois
não haja cortinas
nem abismos
minha estratégia é
em outras palavras
mais profunda e mais
simples
minha estratégia éque um dia qualquer
não sei como nem sei
com que pretexto
por fim me necessites.
Mário Benedetti


"...Eu conjugava o verbo amar
de uma maneira errada;
pensava e perguntava
se meu esforço valeria a pena.
Agora eu passo as madrugadas
inventando-te poemas..."
Fernando Girão