sábado, outubro 11

Chapeuzinho Vermelho???


Na floresta do teu peito
Tem um atalho escondidinho
Onde mergulho meu vermelho
Capuz de chapeuzinho

No furinho do teu queixo
Me perco apaixonada
Sou Chapeuzinho tarada
Estou louca pra te amar

No meu conto safadinho
O final é bem feliz
Pois meu lobo gulosinho
Do lanche só pede bis

(Bernadette Moscareli e Paty Padilha)
Som de celo


Alice Ruiz


Você tem o dom
de pôr som de celo
onde havia gelo
quem dera tê-lo
você e teu dom
de transformar esse silêncio
num solo de celo
quem dera descobrir
teus zelos véu por véu
descobrir talvez um novo céu
e nele vê-lo
entre as estrelas
cobrir você
com meus cabelos
quem dera este celo
não fosse tão solo
quem dera você para sê-lo

Dizeis que tenho vaidades.

E que no vosso entender

Mulheres de pouca idade

Que não se queiram perder

É preciso que não tenham

Tantas e tais veleidades.



Senhor, se a mim me acrescento

Flores e renda, cetins,

Se solto o cabelo ao vento

É bem por vós, não por mim.



Tenho dois olhos contentes

E a boca fresca e rosada.

E a vaidade só consente

Vaidades, se desejada.



E além de vós

Não desejo nada.

Hilda Hilst


segunda-feira, outubro 6


Perdi a minha gota de orvalho!

- queixou-se a flor ao céu do amanhecer,

o qual tinha perdido todas as suas estrelas ....


Tagore





A Ivonete está quase gritando:
“ai, senhor, liberta o coitadinho”.
Entrou pela porta da cozinha
e se perdeu atrás da geladeira,
aprendendo a voar,o filhote de passarinho.
A mãe, louca, piando em volta e trazendo comida,
sem sucesso, uma zoeira os dois.
Abel arrastou a geladeira e pôs o filhote na grama,
a mãe veio doida atrás e os dois sumiram.
Graças a Deus, falou Ivonete,
como é que tem gente que não olha os filhos,
se até bicho-mãe cuida da cria.

Adélia Prado in Quero minha mãe





'o meu maior desejo

sempre foi o de aumentar a noite

para a conseguir encher de sonhos'



Virginia Woolf

Podei a roseira no momento certo

e viajei muitos dias,

aprendendo de vez

que se deve esperar biblicamente

pela hora das coisas.

Quanto abri a janela, vi-a,

como nunca a vira,

constelada,

os botões,

alguns já com o rosa-pálido

espiando entre as sépalas,

jóias vivas em pencas.

Minha dor nas costas,

meu desaponto com os limites do tempo,

o grande esforço para que me entendam

pulverizaram-se

diante do recorrente milagre.

Maravilhosas faziam-se

as cíclicas perecíveis rosas.

Ninguém me demoverá

do que de repente soube

à margem dos edifícios da razão:

a misericórdia está intacta,

vagalhões de cobiça,

punhos fechados,

altissonantes iras,

nada impede ouro de corolas

e acreditai: perfumes.

Só porque é setembro.


Adélia Prado
criança observa ,

com amor e não com indiferença.

Isso , é que a faz ...


_ Ver o invisível _


Maria Montessori


Boneca se aquece

com o meu chapéu de lã.

Eu visto saudades.


Teruko Oda



dá-me um lugar onde possa reclinar a cabeça
um colo onde possa adormecer
e te saiba por perto

dá-me mãos inteiras de chuva
os lírios que a manhã me trouxe aos olhos
uma única razão para o dilúvio

e eu dar-te-ei um verso
do tamanho de uma casa


José Rui Teixeira

Cantar de Amigo


À beira do rio fui dançar... Dançando
Me estava entretendo,
Muito a sós comigo,
Quando na outra margem, como se escondendo
Para que eu não visse que me estava olhando,
Por entre os salgueiros vi o meu amigo.
Vi o meu amigo cujos olhos tristes
Certo se alegravam
De me ver dançar.
Fui largando as roupas que me embaraçavam,
Fui soltando as tranças...Olhos que me vistes,
Doces olhos tristes, não no ireis contar!
Que o amor é lume bem eu o sei...que logo
Que vi meu amigo
Por entre os salgueiros,
Melhor eu dançava, já não só comigo
Toda num quebranto, ao mesmo tempo em fogo,
Melhor eu movia mãos e pés ligeiros.
Que Deus me perdoe, que aos seus olhos tristes
Assim ofertava
Minha formosura!
Se não fora o rio que nos separava,
Cruel com nós ambos, olhos que me vistes,
Nem eu me amostrara tão de mim segura...

José Régio

Rosalina tem
segredos de
várias cores.



O segredo verde
ela conta só no
ouvido do beija-flor.



O segredo lilás
ela prende no cabelo
e vai passear com a
Gata Lina numa caverna
quase de verdade.



O segredo transparente
ela põe pra tingir no
sol de setembro.


O segredo azul
ela conta só pra mim,
que não conto
pra ninguém.

Quem sabe,
no ano que vem...



Eloí Elizabet Bocheco