sexta-feira, janeiro 30
Fito Paez e Caetano Veloso, Un vestido y un amor
Um vestido e um Amor
Te vi
Juntavas margaridas no jardim
Já sei que tratei bastante mal
Não sei se eras um anjo ou um rubi
Ou simplesmente te vi
Te vi
Saíste entre as pessoas a saudar
Os astros já sorriram outra vez
A chave de Mandala se quebrou
Ou simplesmente te vi
Tudo que me dizes é demais
As luzes se acendem em minh'alma
E quando me perco na cidade
Você já sabe compreender
Que é só um tempo e não mais
Teria que chorar ou sair a matar
Te vi, te vi, te vi
E eu não queria nada e te vi ...
Te vi
Fumavas uns cigarros em Madri
São coisas que te ajudam a viver
Não tinhas outra coisa que escrever
E eu simplesmente te vi
E fui
Eu vou de vez em quando a algum lugar
Já sei que não te alegra este país
Só tinhas um vestido e um amor
E eu simplesmente te vi
Tudo que me dizes é demais
As luzes se acendem em minh'alma
E quando me perco na cidade
Você já sabe compreender
Que é só um tempo e não mais
Teria que chorar ou sair a matar
Te vi, te vi, te vi
E eu não queria nada e te vi ...
quinta-feira, janeiro 29
Tatuagem
Tatuagem
Chico Buarque - Ruy Guerra
Quero ficar no teu corpo
Feito tatuagem
Que é prá te dar coragem
Prá seguir viagem
Quando a noite vem...
E também prá me perpetuar
Em tua escrava
Que você pega, esfrega
Nega, mas não lava...
Quero brincar no teu corpo
Feito bailarina
Que logo se alucina
Salta e te ilumina
Quando a noite vem...
E nos músculos exaustos
Do teu braço
Repousar frouxa, murcha
Farta, morta de cansaço...
Quero pesar feito cruz
Nas tuas costas
Que te retalha em postas
Mas no fundo gostas
Quando a noite vem...
Quero ser a cicatriz
Risonha e corrosiva
Marcada a frio
Ferro e fogo
Em carne viva...
Corações de mãe, arpões
Sereias e serpentes
Que te rabiscam
O corpo todo
Mas não sentes..
Chico Buarque de Holanda - Tatuagem
quarta-feira, janeiro 28
Amo -
lançando-se contra moinhos de vento gritava dom Quixote.
Amo –
envenenado de céus gritava Otelo.
Amo –
recostado em Ossian soluçava Werther.
Amo –
tremendo nas carruagens de Jasvin repetia Vronski.
Amo –
separando-se de Grusenka sonhava Dimitri Karamazov.
Amo –
brandindo a espada recitava Cyrano.
Amo –
regressando do comício sussurrava Jacques Thibault.
Amo –
gritaria também o herói de um romance contemporâneo,
mas o autor não lho permite.
Não está na moda.
O amor já não é contemporâneo
Izet Sarajlic
Trad. de José Luís Peixoto e Juan Piqueras
.
Eu cantarei de amor tão fortemente
Com tal celeuma e com tamanhos brados
Que afinal teus ouvidos, dominados,
Hão de a força escutar quanto eu sustente.
Quero que meu amor se te apresente
- Não andrajoso e mendigando agrados,
Mas tal como é: - risonho e sem cuidados
Muito de altivo, um tanto de insolente.
Nem ele mais a desejar se atreve
Do que merece; eu te amo, e o meu desejo
Apenas cobra um bem que se me deve.
Clamo, e não gemo; avanço, e não ratejo;
E vou de olhos enxutos e alma leve
A galharda conquista do teu beijo.
Vicente de Carvalho
divinarum humanarumque
rerum cum benevolentia
et caritate consensio ...
Marco Túlio Cicero, De Amicitia
Pois a amizade nada mais é que o acordo perfeito,
acompanhado de benevolência e afeição,
de todas as coisas humanas e divinas…
trad. De Gilson César Cardoso de Souza
Se queres a paz, prepara a paz
«Existe uma tentação extremamente subtil e perigosa
para confundir a paz com a simples ausência de guerra,
como se fôssemos tentados a confundir a saúde
com a simples ausência de doença,
ou a liberdade com a ausência de prisões.
Por exemplo, «coexistência pacífica»
é uma expressão que significa ausência de guerra
e não paz verdadeira.
Passemos, então, a definir «paz positiva»
como o começo da compreensão mútua,
do respeito e consideração pelo outro
como diferente de nós.
A paz positiva é aquilo que chamo coexistência dos espíritos e dos corações.
Esta definição é válida para a paz entre grupos, nações, blocos, etc...»
- Dominique Pire em «Construir a Paz»
quando está calor demais
quando o corpo dói
e os olhos pesam
tristeza é quando se dorme pouco
quando a voz sai fraca
quando as palavras cessam
e o corpo desobedece
tristeza é quando não se acha graça
quando não se sente fome
quando qualquer bobagem
nos faz chorar
tristeza é quando parece
que não vai acabar”
Martha Medeiros
Há só tu dei-te o que não tinha
assistimos juntos à andorinha
desfiz-me em pedaços de ternura
quando a tua mão tocou a minha
quero lá saber do eu
ainda querer saber
de alguma coisa
parecida com a nossa
diferente da tua
a frase que aqui falta
é de vez em quando
se não te importas
dares pela minha falta
Joaquim Castro Caldas
" Calma todo esta en calma
Deja q el beso dure deja q el tiempo cure
Deja que el alma tenga la misma edad que la edad del cielo
No somos mas
Que un puñado de mar
Una broma de dios
Un capricho del sol
del jardín del cielo
no damos pie entre tanto tic tac
entre tanto big-ban
solo un grano de sal en la edad del cielo
Calma todo esta en calma
Deja q el beso cure deja q el tiempo cure
Deja que el alma tenga la misma edad que la edad del cielo
La misma edad que la dad del cielo
Calma todo esta en calma... "
[Trechos Jorge Drexler]
"Eu gosto do meu corpo quando ele está com o teu corpo. É algo completamente novo. Em músculos e nervos ainda mais e melhor. Eu gosto do teu corpo. Eu gosto do que ele faz, dos seus comos. Eu gosto de sentir a rotação do teu corpo e seus ossos e a trêmula firme-maciez e o que eu vou beijar mais e mais e mais e mais, eu gosto de beijar os teus aquis e alis, eu gosto de acariciar lentamente a surpreendente penugem da tua pele elétrica, e algo indefinível surge sobre a carne que se abre... e olhos imensos amor-emoção. E possivelmente eu gosto do êxtase de sob mim você completamente novo."
e.e. cummings.
────────ۑۺے.◦"¤"◦.ۑۺے───────
Dai-me um de vossos beijos saborosos
E depois, dai-me um desses amorosos
E eu pagarei com brasa os que me dais.
Virei vos socorrer, se vos cansais,
Com mais dez beijos longos, langorosos,
E assim, trocando afagos tão gostosos,
Gozemos um do outro, em calma e paz.
Vida em dobro teremos, sendo assim;
Eu viva em vós e vós vivendo em mim.
Deixai que vague, pois, meu pensamento:
Não dá prazer viver bem-comportada;
Bem mais feliz me sinto, e contentada,
Quando cometo algum atrevimento.
Louise Labbé
Minha filha, você vem da água, e a água fala. Você vem do tempo e estará no tempo, e sua palavra estará no vento e será semeada na terra. Sua palavra será o fogo que transforma todas as coisas. Sua palavra estará na água e será espelho da língua. Sua palavra terá olhos e olhará, terá ouvidos e escutará, terá habilidade para mentir com a verdade e dirá verdades que parecerão mentiras. Com a palavra poderá retornar à quietude, ao princípio onde não é nada, onde nada está, onde tudo o que é criado volta ao silêncio, mas sua palavra o despertará e você terá de nomear os deuses e terá de dar voz às árvores, e fará com que a natureza tenha língua e o invisível falará por você e se tornará visível em sua palavra. E sua língua será palavra de luz e sua palavra, pincel de flores, palavra de cores que com sua voz pintará novos códices.
Laura Esquivel
Árias Pequenas. Para Bandolim
de Hilda Hilst
Antes que o mundo acabe,
Deita-te e prova
Esse milagre do gosto
Que se fez na minha boca
Enquanto o mundo grita
Belicoso. E ao meu lado
Te fazes árabe, me faço israelita
E nos cobrimos de beijos
E de flores
Antes que o mundo se acabe
Antes que acabe em nós
Nosso desejo
Como quem resolve uma viagem, devíamos poder escolher essas excursões sem veículos nem companhia – por mares, grutas, neves, montanhas, e até pelos astros onde moram desde sempre heróis e deuses de todas as mitologias e os fabulosos animais do Zodíaco.
Devíamos, à vontade, passar pelas margens do Paraíba, lá onde suas espumas frescas correm como o luar por entre as pedras, ao mesmo tempo cantando e chorando. – Ou habitar uma tarde prateada de Florença, e ir sorrindo para cada estátua dos palácios, e das ruas, como quem saúda muitas famílias de mármore... – Ou contemplar nos Açores hortênsias da altura de uma casa, lagos de duas cores e cestos de vime nascendo entre as fontes, com águas frias de um lado e, do outro, quentes... – Ou chegar a Ouro Preto e continuar a ouvir aquela menina que estuda piano há duzentos anos, hesitante e invisível, enquanto o cavalo branco escolhe, de olhos baixos, o trevo de quatro folhas que vai comer...
Quantos lugares, meu Deus, para essas excursões! Lugares recordados ou apenas imaginados. Campos orientais atravessados por nuvens de pavões. Ruas amarelas de pó, amarelas de sol, onde os camelos de perfil de gôndola, estacionam, com seus carros. Avenidas cor-de-rosa, por onde cavalinhos emplumados, de rosa na testa e colar ao pescoço, conduzem leves e elegantes coches polícromos.
... E lugares inventados, feitos ao nosso gosto; jardins no meio do mar; pianos brancos que tocam sozinhos; livros que se desarmam, transformados em música...
... E sonhar com os que amamos e conhecemos, e estão perto ou longe, vivos ou mortos... Sonhar com eles no seu melhor momento, quando foram merecedores de amor imortal!...
Ah!... – (Que gostaria você de sonhar esta noite?).”
Cecília Meireles