sexta-feira, novembro 7


ao ouvir as suites inglesas de bach
a humidade dos campos envolve-me
com uma névoa de rios
e uma auréola de margens
esta música puxa-me pelas suas mãos de som
para o ritmo que o poema devia encontrar
no limite dos teus cabelos
e tu contra o portão nesse contraluz que te incendeia
o vermelho da túnica sobre o branco dos muros
roubas ao cravo o seu sorriso profano
plantando nas suas teclas
um desejo que o jardim do teu corpo fará florescer
assim vens até mim
pelos degraus deste ritmo que bach inventou
para descrever não se sabe que dança
movimento de saias com o vento
baloiço vago que se evola
de uma entrega evanescente
num canto de arbusto
até ao silêncio branco com que o amor se fecha






episódio musical
de nuno júdice

Mulher, Homem

Sou flores multicores
Sou rosas, jasmins, margaridas,
Sou as pétalas caídas
Sou bem querer
Sou bem-me-quer
Sou tua
Mulher

És músculo, olhos, odores
És gozo, rítmo, cores
És macho da minha espécie
És a minha fome
És o bicho que me come
És meu
Homem

( Paty Padilha e Bernadette Moscareli)

"Para quem ama,
não será a ausência a mais certa,
a mais eficaz,
a mais intensa,
a mais indestrutível,
a mais fiel das presenças ?"
Marcel Proust



"Todo o mundo nos revelará os seus segredos, se o amor que lhe dedicarmos for suficientemente grande."
George Washington Carver


"O nosso coração tem a idade daquilo que ama."

Marcel Prévost





"O luar por amigo,
a sombra por escrava,
vamos todos fruir
a Primavera,festejar.
Eu canto e passeiam no ar
os raios de luar."

Li Bai

Escreve-Me...

Escreve-me! Ainda que seja só
Uma palavra, uma palavra apenas,
Suave como o teu nome e casta
Como um perfume casto d'açucenas!

Escreve-me!Há tanto,há tanto tempo
Que te não vejo, amor!Meu coração
Morreu já,e no mundo aos pobres mortos
Ninguém nega uma frase d'oração!

"Amo-te!"Cinco letras pequeninas,
Folhas leves e tenras de boninas,
Um poema d'amor e felicidade!

Não queres mandar-me esta palavra apenas?
Olha, manda então...brandas...serenas...
Cinco pétalas roxas de saudade...

Florbela Espanca


quarta-feira, novembro 5




Eu só quero que você saiba
Que estou pensando em você
Agora e sempre mais
Eu só quero que você ouça
A canção que eu fiz pra dizer
Que eu te adoro cada vez mais
E que eu te quero sempre em paz

Tô com sintomas de saudade
Tô pensando em você
E como eu te quero tanto bem
Aonde for não quero dor
Eu tomo conta de você
Mas te quero livre também
Como o tempo vai e o vento vem

Eu só quero que você caiba
No meu colo
Porque eu te adoro cada vez mais
Eu só quero que você siga
Para onde quiser
Que eu não vou ficar muito atrás

Marisa Monte

Pedir-te a sensação
a água
o travo

aquele odor antigo
de uma parede
branca

Pedir-te da vertigem
a certeza
que tens nos olhos quando
me desejas

Pedir-te
sobre a mão
a boca inchada
um rasto de saliva
na garganta

pedir-te que me dispas
e me deites
de borco e os meus seios
na tua cara

Pedir-te que me olhes e me aceites
me percorras
me invadas
me pressintas

Pedir-te que me peças
que te queira
no separar das horas
sobre a língua

Meu ciúme
meu perfil
minha fome

meu sossego
minha paz
minha aventura

Meu sabor
minha avidez
saciedade

minha noite
minha angústia
meu costume

Maria Tereza Horta in Invocação ao amor


... Como viver daqui em diante



Se insistes em ficar



Me enjaulando num verso



Eu, uma fera no seu laço



Amordaçada, sei,Há muito tempo,



Que era você



Que viria me fazer pecar...







Della-Porther

Os meus versos

Rasga esses versos que eu te fiz, amor!
Deita-os ao nada, ao pó, ao esquecimento,
Que a cinza os cubra, que os arraste o vento,
Que a tempestade os leve aonde for!

Rasga-os na mente, se os souberes de cor,
Que volte ao nada o nada de um momento!
Julguei-me grande pelo sentimento,
E pelo orgulho ainda sou maior!…

Tanto verso já disse o que eu sonhei!
Tantos penaram já o que eu penei!
Asas que passam, todo o mundo as sente…

Rasgas os meus versos… Pobre endoidecida!
Como se um grande amor cá nesta vida
Não fosse o mesmo amor de toda a gente!…

FLORBELA ESPANCA



Afundo um pouco o rio com meus sapatos.
Desperto um som de raízes com isso
A altura do som é quase azul.

Manoel de Barros


Acorda bailarina
Nos braços do poeta
Faça um pas-de-deux
Com minh’alma.
Leonor Cordeiro

Deitada és uma ilha E raramente
surgem ilhas no mar tão alongadas
com tão prometedoras enseadas
um só bosque no meio florescente

promontórios a pique e de repente
na luz de duas gémeas madrugadas
o fulgor das colinas acordadas
o pasmo da planície adolescente

Deitada és uma ilha Que percorro
descobrindo-lhe as zonas mais sombrias
Mas nem sabes se grito por socorro

ou se te mostro só que me inebrias
Amiga amor amante amada eu morro
da vida que me dás todos os dias



David Mourão-Ferreira


Dile al pájaro que sólo hay árbolesen mi corazón.






Clara Janés



DA PROPENSÃO A PERDER AS CHAVES


Tenho perdido muitas chaves pela vida.
A chave do êxito extraviou-se num século
cujas chaves não decifro neste pentagrama
de louca transcendência.
A da felicidade caiu no mar dos absurdos
e meu escafandro estava cheio de furos.
A do conhecimento está em algum lugar
que não sei precisar
buscá-la é ofício do vigia
que faz a barba em minha pupila.
A da imortalidade pesava tanto
tive que desfazer-me dela
para seguir vivendo.
A do teu coração profundo e espesso
só abria duas de suas sete portas.
A única chave que conservo
preserva minha inocência
em algum lugar da caixa do corpo.
Só para não perdê-la
Escrevo versos.

Consuelo Tomás



domingo, novembro 2

“A felicidade suprema na vida é a convicção de sermos amados."
- Victor Hugo