sábado, maio 17
"Entre as palavras, existem para cada falante as prediletas e as estranhas,preferidas e evitadas, cotidianas - que se usam mil vezes sem temer o desgaste - e outras - solenes - que, por mais que as amemos, só pronunciamos ou escrevemos com cuidado e reflexão,como objetos raros: fazendo as escolhas que correspondem a essa sua solenidade.Entre elas está para mim a palavra :
FELICIDADE."
(Hermann Hesse)
"Foram se conhecendo um ao outro,
cada dia uma nova descoberta.
Juntos,ele correndo pelo chão de verde grama,
ela voando pelo azul do céu,
vagabundearam por todo o parque,
encontraram recantos deliciosos,
descobriram novas nuances de cor nas flores,
variações na doçura da brisa,
e uma alegria que talvez estivesse mais dentro deles
que mesmo nas coisas em redor.
Ou bem a alegria estava presente em todas as coisas
e eles não a viam antes.
Porque -eu vos digo- temos olhos de ver e olhos de não ver,depende
do estado de coração de cada um."
Jorge Amado
:então pensei que novamente eu queria uma vida branca e fácil e doce, onde meus amigos e minha família estivessem exatamente no lugar de onde jamais deveriam ter saído: eu colheria sorrisos todas as manhãs ofertando-lhes a minh'alma: então pensei que novamente eu deveria fechar os olhos e resgatar qualquer coisa perdida que não me lembro nem lembrarei o momento exato em que isso aconteceu: porque quando aconteceu, também me perdi com qualquer coisa: então pensei que novamente eu poderia rezar numa língua que ninguém entendesse, na esperança de que um vento soprasse minhas palavras, formando frases que seriam diretas: então eu pensei que tudo isso é tão confuso e dói tanto, que os vários pedaços de mim secam e silenciam como uma folha de outono:
[S.Botelho]
sexta-feira, maio 16
Canção da garoa
quinta-feira, maio 15
*Fábula*
Conta, que alguns anjinhos em certa vez.
Cansados de um céu de extrema brancura
Se entediaram... e por isso...talvez!
Fugiram de lá nas nuvens escuras.
Queriam brincar, viver aventuras
E pelo trajeto Marte-Aldebarã.
Voaram entre os trovões nas alturas
E de um belo Arco-íris, se fez tobogã.
Porem a peraltice é descoberta,
E Deus na forma que julgou correta
Em degredo o grupo na terra isola.
Foram castigados tão exemplarmente,
Que hoje os vemos disfarçadamente
Em cada criança que nos pede esmola.
Jenário de Fátima
és a sombra da casa onde nasci,
és a noite que à noite me procura.
Só por dentro de ti há corredores
e em quartos interiores o cheiro a fruta
que veste de frescura a escuridão. . .
Só por dentro de ti rebentam flores.
Só por dentro de ti a noite escuta
o que sem voz me sai do coração.
[David Mourão Ferreira]
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes! E eu acreditava. Acreditava porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis. Mas isso era no tempo dos segredos. Era no tempo em que o teu corpo era um aquário. Era no tempo em que os meus olhos eram dois peixes verdes. Hoje são apenas os meus olhos.
[Eugénio de Andrade]
Excerto de "A Menina do Mar"
[...]No dia seguinte, logo de manhã. o rapaz foi ao seu jardim e colheu uma rosa encarnada muito perfumada. Foi para a praia e procurou o lugar da véspera.- Bom dia, bom dia, bom dia - disseram a Menina, o polvo, o caranguejo e o peixe.- Bom dia - disse o rapaz. E ajoelhou-se na água, frente da Menina do Mar.- Trago-te aqui uma flor da terra - disse; chama-se uma rosa.- É linda, é linda - disse a Menina do Mar, dando palmas de alegria e correndo e saltando em roda da rosa.- Respira o seu cheiro para veres como é perfumada.A Menina pôs a sua cabeça dentro do cálice da rosa e respirou longamente. Depois levantou a cabeça e disse suspirando:- É um perfume maravilhoso. No mar não há nenhum perfume assim. Mas estou tonta e até um bocadinho triste. As coisas da terra são esquisitas. São diferentes das coisas do mar. No mar há monstros e perigos, mas as coisas são alegres. Na terra há tristeza dentro das coisas bonitas.- Isso é por causa da saudade - disse o rapaz.- Mas o que é a saudade? - Perguntou a Menina do Mar.- A saudade é a tristeza que fica em nós quando as coisas de que gostamos se vão embora.- Ai! - Suspirou a Menina do Mar olhando para a terra. Por que é que me mostraste a rosa? Agora estou com vontade de chorar.[...]
(Sophia de Mello Breyner)
•.εïз.•Patrícia:
♥ Queen: (Um presente especial para meus queridos amigos)
AS QUATRO ESTAÇÕES POR NERUDA
“Com muita humildade, fiz estes sonetos de madeira, dei-lhes o som desta opaca e pura substância (...)”
- Pablo Neruda
SONETO
PABLO NERUDA
Ou flecha de cravos que propagam o fogo:
Te amo como se amam certas coisas obscuras,
Secretamente, entre a sombra e a alma.
Te amo como a planta que não floresce e leva
Dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
E graças a seu amor vive escuro em meu corpo
O apertado aroma que ascendeu da terra.
Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
Te amo diretamente sem problemas nem orgulho:
Assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
Senão assim deste modo em que não sou nem és,
Tão perto que tua mão sobre meu peito é minha,
Tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.
SONETO
PABLO NERUDA
ENQUANTO a margem espuma da Ilha Negra,
O sal azul, o sol nas ondas te molham,
Eu contemplo os trabalhos da vespa
Empenhada no mel de seu universo.
Vai e vem equilibrando seu reto e ruivo vôo
Como se deslizasse de um arame invisível
A elegância do baile, a sede de sua cintura,
E os assassinatos do ferrão maligno.
De petróleo e laranja é seu arco-íris ,
Busca como um avião entre a erva,
Com um rumor de espiga, voa, desaparece,
Enquanto tu sais do mar, nua,
E regressas ao mundo cheia de sal e sol,
Reverberante estátua e espada da areia.
SONETO
PABLO NERUDA
MATILDE, onde estás? Notei, para baixo,
Entre gravata e coração, acima,
Certa melancolia intercostal:
Era que de repente estavas ausente
Fez-me falta a luz de tua energia
E olhei devorando a esperança,
Olhei o vazio que é sem ti uma casa,
Não ficam senão trágicas janelas.
De puro taciturno o teto escuta
Cair antigas chuvas desfolhadas,
Plumas, o que a noite aprisionou:
E assim te espero como casa só
E voltarás a ver-me e habitar-me.
De outro modo me doem as janelas.
SONETO
(Pablo Neruda)
TUA CASA ressoa como um trem ao meio-dia,
Zumbem as vespas, cantam as caçarolas,
A cascata enumera os feitos do orvalho,
Teu riso desenvolve seu trinar de palmeira.
A luz azul do muro conversa com a pedra,
Chega como um pastor silvando um telegrama
E, entre as duas figueiras de cor verde,
Homero sobe com sapatos sigilosos.
Somente aqui a cidade não tem voz nem pranto,
Nem sem-fim, nem sonatas, nem lábios, nem buzina,
Mas um discurso de cascata e de leões,
E tu que sobes, cantas, corres, caminhas , desces,
Plantas, cozes, cozinhas, pregas, escreves, voltas,
Ou te foste e se sabe que começou o inverno.
quarta-feira, maio 14
terça-feira, maio 13
Não tenhas medo do amor. Pousa a tua mão
devagar sobre o peito da terra e sente respirar
no seu seio os nomes das coisas que ali estão acrescer: o linho e a genciana; as ervilhas-de-cheiro
e as campainhas azuis; a menta perfumada para
as infusões do verão e a teia de raízes de um
pequeno loureiro que se organiza como uma rede
de veias na confusão de um corpo. A vida nunca
foi só inverno, nunca foi só bruma e desamparo.Se bem que chova ainda, não te importes: pousa a
tua mão devagar sobre o teu peito e ouve o clamor
da tempestade que faz ruir os muros: explode no
teu coração um amor-perfeito, será doce o seu
pólen na corola de um beijo, não tenhas medo,hão-de pedir-to quando chegar a primavera.
Maria do Rosário Pedreira
Nenhum Nome Depois
devagar sobre o peito da terra e sente respirar
no seu seio os nomes das coisas que ali estão acrescer: o linho e a genciana; as ervilhas-de-cheiro
e as campainhas azuis; a menta perfumada para
as infusões do verão e a teia de raízes de um
pequeno loureiro que se organiza como uma rede
de veias na confusão de um corpo. A vida nunca
foi só inverno, nunca foi só bruma e desamparo.Se bem que chova ainda, não te importes: pousa a
tua mão devagar sobre o teu peito e ouve o clamor
da tempestade que faz ruir os muros: explode no
teu coração um amor-perfeito, será doce o seu
pólen na corola de um beijo, não tenhas medo,hão-de pedir-to quando chegar a primavera.
Maria do Rosário Pedreira
Nenhum Nome Depois
Mãe
haverá flores e serão tristes. haverá sol talvez, mas será tão triste.lágrimas como mãos sobre o rosto. silêncio negro durante a noite.
não mais entrará no quarto antes de eu adormecer. esperarei semprepor uma história que nunca contará, por uma canção impossível.
não quero imaginar o dia em que a minha mãe morrer. haverá florese serão tristes. haverá vida talvez, mas será para sempre tão triste.
Poema de José Luis Peixoto,em A Casa, a Escuridão
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