sábado, junho 28

Os amigos


no regresso encontrei aqueles
que haviam estendido o sedento corpo
sobre infindáveis areias

tinham os gestos lentos das feras amansadas
e o mar iluminava-lhes as máscaras
esculpidas pelo dedo errante da noite

prendiam sóis nos cabelos entrançados
lentamente
moldavam o rosto lívido como um osso
mas estavam vivos quando lhes toquei
depois
a solidão transformou-os de novo em dor
e nenhum quis pernoitar na respiração
do lume

ofereci-lhes mel e ensinei-os a escutar
a flor que murcha no estremecer da luz
levei-os comigo
até onde o perfume insensato de um poema
os transmudou em remota e resignada ausência

Al Berto

nos dias tristes não se fala de aves
liga-se aos amigos e eles não estão
e depois pede-se lume na rua
como quem pede um coração
novinho em folha.

nos dias tristes é inverno
e anda-se ao frio de cigarro na mão
a queimar o vento
e diz-se bom dia!
às pessoas que passam
depois de já terem passado
e de não termos reparado nisso

nos dias tristes fala-se sozinho
e há sempre uma ave que pousa
no cimo das coisas
em vez de nos pousar no coração
e não fala connosco.


filipa leal

sexta-feira, junho 27

Pedro


"Pedro é um nome que agente conhece em muitas línguas:
Pedro, Pierre, Pietro, Peter, Pether, Petrus.
Pedro pintou, um dia, em alguma parte do mundo, o retrato
de uma borboleta.
O papel tinha o tamanho de sua intenção.
As cores, as de seu desejo.
Pintou ainda, sobre o papel, flores para a borboleta se esconder
e galhos para descansar.
É mesmo fácil imaginar sua pintura ou faze-la, mas a
conseqüência não foi tão simples.
É melhor saber toda a história.
Pierre acordou com o coração cheio de domingo.
Domingo é dia em que a gente não quer nada e por isso
acontece quase tudo.
Não era domingo, mas ele se sentia em paz com o mundo.
Nesse dia ele viu o vôo de uma borboleta (vôo de borboleta
pode transformar qualquer dia em domingo)."



Bartolomeu Campos Queiroz.

Portas trancadas





Para os anjos que habitam esta cidade,
Ainda que a sua forma mude constantemente,
todas as noites deixamos algumas batatas frias
e uma tigela de leite no parapeito.
Geralmente eles habitam o céu onde,
a propósito, não são permitidas lágrimas.
Eles empurram a lua à volta como
Um inhame cozido
A via láctea é a sua galinha
com os seus muitos filhos.
Quando é noite as vacas deitam-se
mas a lua, esse grande touro,
fica em pé.

No entanto, há lá um quarto trancado
com uma porta de ferro que não pode ser aberta.
Tem lá dentro todos os teus sonhos maus.
É o inferno.
Há quem diga que o diabo fecha a porta
por dentro.
Há quem diga que os anjos a trancam por fora.
As pessoas lá dentro não têm água
E não lhes é permitido tocar
Racham-se como macadame.
São mudas.
Não gritam socorro
excepto dentro
onde os seus corações estão cobertos de larvas

Eu gostaria de destrancar essa porta,
rodar a chave ferrugenta
e segurar cada caído nos meus braços
mas não posso, não posso.
Eu apenas me posso sentar aqui na terra
no meu lugar à mesa.


Anne Sexton

UM OUTRO NASCIMENTO


Todo o meu ser é um cântico negro
que te levará
fazendo-te durar
ao despertar dos crescimentos e florescimentos eternos
neste cântico eu suspirei tu suspiraste
neste cântico
eu acrescentei-te à árvore à água ao fogo.

A vida é talvez
uma rua comprida pela qual uma mulher segurando
um cesto passa todos os dias.

A vida é talvez
uma corda com a qual um homem se enforca num ramo
a vida é talvez uma criança a regressar a casa da escola.

A vida é talvez acender um cigarro
na pausa narcótica entre fazer amor e fazer amor
ou o olhar ausente de um homem que passa
tirando o chapéu a um outro homem que passa
com um sorriso vazio e um bom dia.

A vida é talvez esse momento fechado
quando o meu olhar se destrói na pupila dos teus olhos
e está no sentimento
que eu irei pôr na impressão da Lua
e na percepção da Noite.

Num quarto grande como a solidão
o meu coração
que é grande como o amor
olha os simples pretextos da sua felicidade
o belo murchar das flores no vaso
a jovem árvore que plantaste no teu jardim
e o canto dos canários
que cantam para o tamanho de uma janela.

Ah
este é o meu destino
este é o meu destino
o meu destino é
um céu que desaparece com a queda de uma cortina
o meu destino é despenhar-me no voo de estrelas agora inúteis
reconquistar qualquer coisa no meio da putrefacção e da nostalgia
o meu destino é um passeio triste no jardim das memórias
e morrer na dor de uma voz que me diz
eu amo
as tuas mãos.

Irei plantar as minhas mãos no jardim
crescerei eu sei eu sei eu sei
e as andorinhas virão pôr ovos
no vazio das minhas mãos manchadas de tinta.

Vou usar
um par de cerejas gémeas como brincos
e pôr pétalas de dália nas minhas unhas
há um beco
onde os rapazes que se apaixonaram por mim
se demoram ainda com o mesmo cabelo despenteado
os mesmos pescoços finos e as mesmas pernas magras
e pensam nos sorrisos inocentes de uma rapariga
que foi levada pelo vento uma noite.

Há um beco
que o meu coração roubou
às ruas da minha infância.

A viagem de uma forma na linha do tempo
fecundando a linha do tempo com a forma
uma forma consciente de uma imagem
a regressar de uma carícia num espelho.

E é desta maneira
que alguém morre
e alguém segue vivendo.

Nenhum pescador jamais achará uma pérola num pequeno regato
que se esvazia num lago.

Eu conheço uma pequena e triste fada
que vive num oceano
e toca a flauta mágica do seu coração
suave, suavemente
pequena e triste fada
que morre com um beijo todas as noites
e com um beijo renasce a cada amanhecer.

Forough Farrokhzad

A minha intimidade é pequena
cabe na minha boca
e desliza por entre os dentes;

se a descubro a fingir que é saliva
engulo-a,
não quero vê-la alheia nas palavras
nem perdê-la com um beijo


Ana Merino

Há só tu dei-te o que não tinha
assistimos juntos à andorinha
desfiz-me em pedaços de ternura
quando a tua mão tocou a minha

quero lá saber do eu
ainda querer saber
de alguma coisa
parecida com a nossa
diferente da tua

a frase que aqui falta
é de vez em quando
se não te importas
dares pela minha falta


Joaquim Castro Caldas

Poema da lavadeira


A lavadeira no tanque
Bate roupa em pedra bem.
Canta porque canta e é triste
Porque canta porque existe;
Por isso é alegre também.
Ora se eu alguma vez
Pudesse fazer nos versos
O que a essa roupa ela fez,
Eu perdeira talvez
Os meus destinos diversos.
Há uma grande unidade
Em, sem pensar nem razão,
E até cantando a metade,
Bater roupa em realidade...
Quem me lava o coração?
Fernando Pessoa

CASA NA CHUVA






A chuva, outra vez a chuva sobre as oliveiras.
Não sei porque voltou esta tarde
se minha mãe já se foi embora,
já não vem à varanda para a ver cair,
já não levanta os olhos da costura
para perguntar: Ouves?
Oiço, mãe, é outra vez a chuva,
a chuva sobre o teu rosto.


Eugénio de Andrade
Trinta Poemas



quinta-feira, junho 26

Herencia


A ti dejaré mis ojos
tranquilos,
mi mirada celeste,
mis labios de seda rosada

A ti dejaré mis palabras
blancas,
mis oídos a tajo abierto,
mis manos libres
mis piernas sigilosas.

A ti también te dejaré
de herencia mi corazón
cistalino,
mis pensamientos de cielo
limpio.

A ti dejaré mi
luz
que alumbre y encienda
en ti frases vírgenes.

Dejaré todo impreso
en los siguientes dias
que me indiquen...
para ti y para todos
los que tengan la osadía
de inmiscuirse...en mi
alma viajera.

Ana
Cuadra Hernández

Escuché



Escuche el rumor
de las plantas
en la fuente cercana,
escuché el murmullo
de los pájaros
que se encendía en la brisa
y seguía soñando
bajo el sauce llorón ,
que en un suave arrullo
traía tu voz misteriosa y serena.
Ebrio de fuego, el sol
eran tus brazos en mi espalda,
y mi sangre se vestía
con los húmedos pétalos
de tus labios .
Ni la melodía danzando el aire ,
ni la música de los pájaros,
de las flores y las fuentes,
ni el arrullo del sauce llorón,
nadie puede imitar
el aroma que sellaste
en mi sangre .

Stella
Maris Taboro


DEVORANDO A VIDA


Hoje e amanhã
O meio termo já não me satisfaz.
Nem pessoas máximas vazias
Nem as ínfimas cheias de mais.
Se por isso me sentencias
Se não me compreendes mais
Digo-te novamente:
É a essência que busco!
Um coração cheio de gente
E não gente cheia de razão.
Quero a carne o osso, a alma
Quero tudo intensamente.
Quero dessa louca vida calma
Desde o fruto
Até a semente!

Carolina Salcides




"Para pintar o retrato de um pássaro.
Primeiro pinte uma gaiola
com a porta aberta.
Depois pinte
algo gracioso
algo simples
algo bonito
algo útil
para o pássaro.
Então encoste a tela a uma árvore
em um jardim
em um bosque
ou em uma floresta.
Esconda-se atrás da árvore
sem falar
sem se mover...
Às vezes o pássaro aparece logo
mas ele pode demorar muitos anos
antes de se decidir.
Não desanime.
Espere.
Espere durante anos, se for necessário.
A rapidez ou a lentidão do pássaro
não influi no bom resultadodo quadro.
Quando o pássaro aparecer
se ele o fizer
observe no mais profundo silêncio
até ele entrar na gaiola
e quando ele assim agir
delicadamente feche a porta com o pincel.
Então,apague uma a uma todas as grades
tomando cuidado para não tocar na plumagem do pássaro.
Em seguida, pinte o retrato de uma árvore
escolhendo o mais bonito de seus galhos
para o pássaro.
Pinte também a folhagem verde e o frescor do vento
o dourado do sol
e a algazarra das criaturas, na relva,
sob o calor do verão.
E então espere até que o pássaro decida cantar.
Se ele não cantar
é um mau sinal,
um sinal de que a pintura está ruim.
Mas se ele cantar é um bom sinal
um sinal de que você pode assinar.
Então, com muita delicadeza,
você arranca
uma das penas do pássaro
e escreve seu nome em um canto do quadro. "

*

Jacques Prévert

quarta-feira, junho 25



"Brinca no mundo da imaginação,

Que nenhum outro mundo contradiz!"

MIGUEL TORGA
No silêncio das crianças, há um programa de vida: sonhos.
É dos sonhos que nasce a inteligência.
A inteligência é a ferramenta que o corpo usa para transformar os seus sonhos em realidade.

É preciso escutar as crianças para que a sua inteligência desabroche.

Sugiro então aos professores que, ao lado da sua justa preocupação com o falar claro,
tenham também uma justa preocupação com o escutar claro.
Amamos não a pessoa que fala bonito.
É a pessoa que escuta bonito.
A escuta bonita é um bom colo para uma criança se assentar..."

RUBEM ALVES -"Educação dos Sentidos"

VERSOS ÍNTIMOS




Vês? Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera
Foi tua companheira inseparável!


Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.


Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro.
A mão que afaga é a mesma que apedreja.


Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

AUGUSTO DOS ANJOS

“Só a poesia é capaz de dizer o que as próprias
coisas jamais pensaram ser na sua intimidade.”

Rainer Maria Rilke

Poesia e sonhos


A poesia catalisa os sonhos
Os sonhos estimulam a inspiração
A essência é escrever poesias
Pois sonhar é a grande solução

Em cada poesia escrita
Tem a singeleza do ato de sonhar
Pode parecer clichê
Mas é o que sinto ao escrever

Sonhos e poesias tem poderes
De nos libertar da ditadura do silêncio
Através dos sonhos somos capazes
De neutralizar o canto imaginário da razão

Por meio da poesia, dos sonhos e da razão
Tornamos-nos capazes da humanização
As intempéries que a vida
Por vez nos propícia

O escrever poesias sobre a forma de vida
É a forma de reinventar nosso próprio futuro
A poesia é momento de sublimação
E sonhos que se catalisam
(Graciela da Cunha)

"Nada substitui o amor, senão a memória do amor."
Yannis Ritsos

[...]


" Para mim o que pode haver de sensível no amor é uma saia branca a sacudir o ar, um laço de cetim que mãos esguias enastram, uma cintura que se verga, uma madeixa perdida que o vento desfez, uma canção ciciada em lábios de ouro e de vinte anos, a flor que a boca de uma mulher trincou...
Não, nem sequer é a formosura que me impressiona. É outra coisa mais vaga - imponderável, translúcida : a gentileza. Sim, e como eu a vou descobrir em tudo, em tudo - a gentileza... Daí uma ãnsia estonteada, uma ânsia sexual de possuir vozes, gestos, sorrisos, a romãs e cores!..


Mário de Sá Carneiro



Embora não tenham limites as minhas conquistas
para mim há apenas uma cidade
e nessa cidade um palácio
e nesse palácio um quarto
e nesse quarto uma cama
e nessa cama uma mulher
adormecida
a jóia mais valiosa
de toda a minha coroa
Anónimo, Índia,
In O vinho e as rosas
Trad. de Jorge Sousa Braga

terça-feira, junho 24

Bonecas de estimação



Tive-as loiras e morenas
De cabelo aos caracóis,
Olhos azuis, cor do céu,
Brilhando como dois sóis.





Boca pequena, vermelha;
Faces macias, rosadas,
Com vestidinhos de chita,
Às bolinhas encarnadas.



E eu brincava tanto, tanto
Com as minhas bonequinhas ...
E, no mundo, não havia
Bonecas iguais às minhas.




(Maria Deolinda L. Nunes)

Receita para Não Engordar sem Necessidade de Ingerir Arroz Integral e Chá de Jasmim


Pratique o amor integral
uma vez por dia
desde a aurora matinal
até a hora em que o mocho espia.
Não perca um minuto só
neste regime sensacional.
Pois a vida é um sonho e,
se tudo é pó,
que seja pó de amor integral.
(Carlos Drummond de Andrade)



Toda a poesia é luminosa,
até a mais obscura.

O leitor é que tem às vezes,
em lugar de sol,
nevoeiro dentro de si ...


Poema de Eugénio de Andrade


Se você pode andar,
você pode dançar.
Se você pode falar,
você pode cantar.


Provérbio africano

segunda-feira, junho 23


Inflama-me, poente: faz-me perfume e chama;

que o meu coração seja igual a ti, poente

descobre em mim o eterno, o que arde, o que ama,

...e o vento do esquecimento arraste o que é doente!



Juan Ramón Jiménez

Escolhas


Entre vento e navalha escolho o vento

entre verde e vermelho aquele azul

que até na morte servirá de espelho

ao vento que por dentro me deslumbra

Entre ventre e cipreste escolho o Sol

Entre as mãos que se dão a que se oculta

Entre o que nunca soube o que já sobra

Entre a relva um milímetro de bruma.

David Mourão-Ferreira

Amanhã fico triste,

Amanhã.

Hoje não.

Hoje fico alegre.

E todos os dias,

por mais amargos que sejam,

Eu digo:Amanhã fico triste,

Hoje não.


Autor anónimo

DESEJO


O desejo a impele ao encontro do amante
O receio a detém por um momento
Parece a seda de um estandarte
Que ora se abandona ora se furta ao vento


Kalidasa, séc. V - Índia
Trad.: Jorge Sousa Braga

TULIPA


(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folhas de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)



Álvaro de Campos.Fernando Pessoa

Se fosse Deus, pintava um quadro:
uma porta meio aberta e a escadaria suave;
no cimo, a minha mãe.
E arranjava maneira de o sorriso dela estar a dizer:
a porta está como a deixaste e
sei que me levaste os olhos.

Não dava nome ao quadro e
todos iam entender que era o retrato do céu.

Zef – a voz da romãzeira

Quando tu vens ao meu encontro
sorrindo

Rosa precipitada
antigo Mar Vermelho
meu coração
abre-se

Ana Hatherly

Anunciação




Amigo: a tua próxima presença
Anuncia-me o mistério ainda não revelado.

Virás como o sonho, na noite, caído sobre as pálpebras
E como a alvorada debruçada sobre o mundo...
Virás com o teu verbo quente e a tua mão leal
Para o aperto solidário que nenhum poder separará.
Virás juntar a tua vida à minha vida,
Comer o mesmo pão, sugar o mesmo sol.

E virás, com o silêncio das horas em que as nossas bocas
[ não saberão falar,
Para selarmos num poema eterno o milagre das nossas almas
[ reveladas,
A fecundar a poesia viva as nossas vidas que não queremos estéreis
[e ignoradas.

Vasco Miranda

Um Amigo



Há uma casa no olharde um amigo.
Nela entramos sacudindo a chuva.
Deixamos no cabide o casaco
fumegando ainda dos incêndios do dia.
Nas fontes e nos jardins


das palavras que trazemos
o amigo ergue o cálice
e o verão
das sementes.
Então abre as janelas das mãos para que cantem
a claridade, a água
e as pontes da sua voz
onde dançam os mais árduos esplendores.

Um amigo somos nós, atravessando o olhar
e os véus de linho sobre o rosto da vida
nas tardes de relâmpagos e nos exílios,

onde a ira nómada da cidade arde
como um cego em busca de luz.

Eduardo Bettencourt Pinto

domingo, junho 22


"Troco um poema por um beijo.



Nem que seja um poema extraordinário.



A vida é mais importante que a escrita"






José Luís Peixoto

Ainda te falta

dizer isto:

que nem tudo

o que veio

chegou por acaso.

Que há

flores que de ti

dependem, que foste

tu que deixaste

algumas lâmpadas

acesas. Que há

na brancura

do papel alguns

sinais de tinta

indecifráveis. E

que esse

é apenas

um dos capítulos do livro

em que tudo

se lê e nada

está escrito.


Albano Martins