quarta-feira, junho 10





Dizes que me amas de uma tal forma,

que não consigo deixar de corar;

que me amas de um modo primitivo,

sem razão aparente e sem desculpas

e que me amas porque me desejas,

porque sabes que eu também te amo

e como o monstro deste amor nos devora

a alma, a paciência e as maneiras.

Sim já sei que me queres,

sim já sei que te espanto.

Sim já sabes que vivo prisioneira

da tua recordação.

Sim já sabes que mantenho várias velas

acesas ao deus da esperança.

Se me ligas, a tua voz faz-me tremer

como se eu fosse uma folha.

Se te ligo, a tua resposta do outro lado

faz-me tremer como uma folha.

Sim já ambos sabemos que nem eu

nem tu podemos fazer nada.

Sim já é muito alguma coisa que fazemos,

sim já é um mundo inteiro

o montão de coisas que (ainda) não fizemos.

E tu tão longe

e tão dentro de mim, tão invasivo.

E esta chuva
que ameaça dissolver toda a terra

e tornar tudo mar, o meu pesadelo.

E de repente todas as distâncias

se tornam infinitas,

como se só o louco mais malvado

as pudesse ter concebido.

(Amalia Bautista)


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