Eu moro só com mamãe em um apartamento muito velho, Rua Sarasate
Eu tenho para me fazer companhia uma tartaruga, dois canários e uma gata
Para deixar mamãe repousar, muito freqüentemente eu faço mercado e a mexo na cozinha
Eu arrumo, eu lavo e eu enxugo, ocasionalmente eu pico também com a máquina
O trabalho não me dá medo, eu sou um pouco decorador, um pouco estilista
Mas meu verdadeiro ofício é a noite em que eu exerço de travesti, eu sou artista
Eu tenho um número muito especial que termina em nu integral depois do strip-tease
E na sala eu vejo que os machos não creem em seus olhos
Eu sou um hom...oh!... como eles dizem
Por volta das 3 horas da manhã, a gente vai comer entre colegas de todos os sexos
Em um bar qualquer e lá a gente se diverte e sem complexo
A gente desembala as verdades sobre as pessoas que a gente tem no nariz, a gente as lapida
Mas a gente o faz com humor enrolado nos trocadilhos molhados de ácido
A gente encontra os atrasados que para impressionar sua mesa caminham e ondulam
Imitando o que eles creem serem nós e se cobrem, os pobre loucos, de ridículos
Gesticula-se e fala-se firme, tocam-se as divas, os tenores da besteira
Eu, as piadas, os zombeteiros me deixam frio já que é verdade
Eu sou um hom...oh!... como eles dizem
Na hora em que nasce um novo dia, eu volto a procurar meu lote de solidão
Eu arranco meus cílios e meus cabelos como um pobre palhaço infeliz de cansaço
Eu me deito mas eu não durmo, eu penso em meus amores sem alegria tão irrisórios
Nesse rapaz belo como um deus que sem fazer nada colocou fogo na minha memória
Minha boca não ousará nunca lhe confessar meu doce segredo, meu tenro drama
Pois o objeto de todos os meus tormentos passa o mais claro de seu tempo na cama das
mulheres
Ninguém tem o direito de verdade de me acusar, de me julgar e eu preciso
Que é bem a natureza que é a única responsável se
Eu sou um hom...oh!... como eles dizem
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