Paulo Mendes Campos,reuniu dois grandes poetas criando este magnífico diálogo entre um homem e uma mulher. A composição respeita a integridade dos versos de Cecília Meireles, em sua "Obra Poética" e de Emílio Moura, em "Itinerário Poético".
Ele: Porque não te conheci menina?
Ela: Fui morena e magrinha como qualquer polinésia, e comia mamão, e mirava a flor de goiaba. E as lagartixas me espiavam, entre os tijolos e as trepadeiras...
Ele: Porque não te conheci quando ias para o colégio?
Ela: Conservo-te meu sorriso para, quando me encontrares ver que ainda tenho uns ares de aluna do paraíso.
Ele: Teu sorriso é tão puro que te ilumina toda.
Ela: Quero apenas parecer bela.
Ele: Nunca te entendo, tantas te vejo. Qual a que vive, qual a que inventas?
Ela: A vida só é possível reinventada.
Ele: E a vida, que é?
Ela: Ando à procura de espaço para o desenho da vida. Saudosa do que não faço, do que faço arrependida.
Ele: De repente, tudo se torna tão irreal que te sinto invisível.
Ela: Digo-te que podes ficar de olhos fechados sobre o meu peito, porque uma ondulação maternal de onda eterna te levará na exata direção do mundo.
Ele: Tudo em ti é viagem. Viajas até mesmo ao redor de tua inacreditável imobilidade.
Ela: Até em barco navega quem para o mar foi fadada.
Ele: Eis a nossa fraqueza: essa necessidade de compreender e de sermos compreendidos, essa febre de ser, esse espanto...
Ela: Agora compreendo o sentido e a ressonância que também trazes de tão longe em tua voz.
Ele: Eu queria que me pertencesses como a cor à luz, como a poesia ao poeta.
Ela: Tenho fases de andar escondida, fases de vir para a rua... Perdição da minha vida! Perdição da vida minha! Tenho fases de ser tua, tenho outras de ser sozinha.
Ele: Tenho medo de mim, de ti, de tudo... Cada gesto que fazes é uma aventura nova que se inicia.
Ela: Nunca eu quisera dizer palavra tão louca...
Ele: Quero-te muito. É como quem recria uma rosa.
Ela: Sou como todas as coisas: e durmo e acordo em tua cabeça, com o andar do dia e da noite, o abrir e o fechar das portas.
Ele: Sonho. És sonho. É tarde, é cedo?
Ela: Quero um dia para chorar. Mas a vida vai tão depressa!
Ele: Ah, ser contraditório, dividido, disperso!
Ela: Somos um ou dois? Às vezes, nenhum. E em seguida, tantos.
Ele: Vieste do Cântico dos Cânticos: "Os teus cabelos são como um rebanho de cabras..."
Ela: Já fui loura, já fui morena, já fui Margarida e Beatriz. Já fui Maria e Madalena. Só não pude ser como quis.
Ele: Sonho que surges diante de mim como quem desce do Líbano.
Ela: Serás o Rei Salomão? Por isso, em meu corpo vão brotando em mornos canteiros, incenso, mirra, e a canção.
Ele: Fabrico uma esperança como quem apaga algo sujo num muro e ali, rápido, escreve: Futuro.
Ela: Uma palavra caída da montanha dos instantes desmancha todos os mares e une as terras mais distantes.
Ele: É sonho o sonho?
Ela: Nunca existiu sonho tão puro como o da minha timidez.
Ele: Na verdade, eu já te esperava desde o princípio.
Ela: O mar imóvel de teus olhos...
Ele: És linda como a manhã que nasce. Que amor o meu! Olha: até parece que somos eternos, livres e eternos.
Ela: Tu és como o rosto das rosas, diferente em cada pétala.
Ele: E a rosa, a rosa o que será?
Ela: A surda e silenciosa, e cega e bela e interminável rosa.
Ele: Quanto mais nos falamos, mais sinto necessidade de ti. Que nos ficou de tudo o que não fomos?
Ela: Nada sei. De nada. Contemplo.
Ele: Estou diante de ti. Nu e silencioso. Porque não prevaleces deste instante e não me revelas quem sou?
Ela: Ah! Se eu nem sei quem sou...
Ele: Para onde vão os teus caminhos? De onde vêm eles?
Ela: Primeiro, foram os verdes e águas e pedras da tarde, e meus sonhos de perder-te e meus sonhos de encontrar-te. Mas depois houve caminhos pelas florestas lunares, e, mortos em meus ouvidos, mares brancos de palavras. E eram flores encarnadas, por cima das folhas verdes. (E entre os espinhos de prata, só meus sonhos de perder-te...).
Ele: Aqui, estou, tímido e humilde.
Ela: Pois aqui estou, cantando.
Ele: Agora que estou diante de ti, já não me pertenço.
Ela: Nossas perguntas e respostas se reconhecem como os olhos dentro dos espelhos. Olhos que choraram.
Ele: Tua presença me invade como a revelação do irreal.
Ela: Conversamos dos dois extremos da noite, como de praias opostas.
Ele: Diante dos meus olhos matinais, as coisas se ordenam simples e perfeitas: o céu, o mar, teu corpo. Ah, o teu corpo!
Ela: Por mais que me procure, antes de tudo ser feito, eu era amor.
Ele: Que tudo o mais é perdido.
Ele: Porque não te conheci menina?
Ela: Fui morena e magrinha como qualquer polinésia, e comia mamão, e mirava a flor de goiaba. E as lagartixas me espiavam, entre os tijolos e as trepadeiras...
Ele: Porque não te conheci quando ias para o colégio?
Ela: Conservo-te meu sorriso para, quando me encontrares ver que ainda tenho uns ares de aluna do paraíso.
Ele: Teu sorriso é tão puro que te ilumina toda.
Ela: Quero apenas parecer bela.
Ele: Nunca te entendo, tantas te vejo. Qual a que vive, qual a que inventas?
Ela: A vida só é possível reinventada.
Ele: E a vida, que é?
Ela: Ando à procura de espaço para o desenho da vida. Saudosa do que não faço, do que faço arrependida.
Ele: De repente, tudo se torna tão irreal que te sinto invisível.
Ela: Digo-te que podes ficar de olhos fechados sobre o meu peito, porque uma ondulação maternal de onda eterna te levará na exata direção do mundo.
Ele: Tudo em ti é viagem. Viajas até mesmo ao redor de tua inacreditável imobilidade.
Ela: Até em barco navega quem para o mar foi fadada.
Ele: Eis a nossa fraqueza: essa necessidade de compreender e de sermos compreendidos, essa febre de ser, esse espanto...
Ela: Agora compreendo o sentido e a ressonância que também trazes de tão longe em tua voz.
Ele: Eu queria que me pertencesses como a cor à luz, como a poesia ao poeta.
Ela: Tenho fases de andar escondida, fases de vir para a rua... Perdição da minha vida! Perdição da vida minha! Tenho fases de ser tua, tenho outras de ser sozinha.
Ele: Tenho medo de mim, de ti, de tudo... Cada gesto que fazes é uma aventura nova que se inicia.
Ela: Nunca eu quisera dizer palavra tão louca...
Ele: Quero-te muito. É como quem recria uma rosa.
Ela: Sou como todas as coisas: e durmo e acordo em tua cabeça, com o andar do dia e da noite, o abrir e o fechar das portas.
Ele: Sonho. És sonho. É tarde, é cedo?
Ela: Quero um dia para chorar. Mas a vida vai tão depressa!
Ele: Ah, ser contraditório, dividido, disperso!
Ela: Somos um ou dois? Às vezes, nenhum. E em seguida, tantos.
Ele: Vieste do Cântico dos Cânticos: "Os teus cabelos são como um rebanho de cabras..."
Ela: Já fui loura, já fui morena, já fui Margarida e Beatriz. Já fui Maria e Madalena. Só não pude ser como quis.
Ele: Sonho que surges diante de mim como quem desce do Líbano.
Ela: Serás o Rei Salomão? Por isso, em meu corpo vão brotando em mornos canteiros, incenso, mirra, e a canção.
Ele: Fabrico uma esperança como quem apaga algo sujo num muro e ali, rápido, escreve: Futuro.
Ela: Uma palavra caída da montanha dos instantes desmancha todos os mares e une as terras mais distantes.
Ele: É sonho o sonho?
Ela: Nunca existiu sonho tão puro como o da minha timidez.
Ele: Na verdade, eu já te esperava desde o princípio.
Ela: O mar imóvel de teus olhos...
Ele: És linda como a manhã que nasce. Que amor o meu! Olha: até parece que somos eternos, livres e eternos.
Ela: Tu és como o rosto das rosas, diferente em cada pétala.
Ele: E a rosa, a rosa o que será?
Ela: A surda e silenciosa, e cega e bela e interminável rosa.
Ele: Quanto mais nos falamos, mais sinto necessidade de ti. Que nos ficou de tudo o que não fomos?
Ela: Nada sei. De nada. Contemplo.
Ele: Estou diante de ti. Nu e silencioso. Porque não prevaleces deste instante e não me revelas quem sou?
Ela: Ah! Se eu nem sei quem sou...
Ele: Para onde vão os teus caminhos? De onde vêm eles?
Ela: Primeiro, foram os verdes e águas e pedras da tarde, e meus sonhos de perder-te e meus sonhos de encontrar-te. Mas depois houve caminhos pelas florestas lunares, e, mortos em meus ouvidos, mares brancos de palavras. E eram flores encarnadas, por cima das folhas verdes. (E entre os espinhos de prata, só meus sonhos de perder-te...).
Ele: Aqui, estou, tímido e humilde.
Ela: Pois aqui estou, cantando.
Ele: Agora que estou diante de ti, já não me pertenço.
Ela: Nossas perguntas e respostas se reconhecem como os olhos dentro dos espelhos. Olhos que choraram.
Ele: Tua presença me invade como a revelação do irreal.
Ela: Conversamos dos dois extremos da noite, como de praias opostas.
Ele: Diante dos meus olhos matinais, as coisas se ordenam simples e perfeitas: o céu, o mar, teu corpo. Ah, o teu corpo!
Ela: Por mais que me procure, antes de tudo ser feito, eu era amor.
Ele: Que tudo o mais é perdido.
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