domingo, dezembro 12


«Eu sou insaciável;
mal um desejo surge,
outro desponta,
e em mim há sempre latente
a febre do sonho e do desejo,
e quando possuo alguma coisa de infinitamente consolador,
[como é a sua amizade,
desejo mais,
mais ainda,
mais sempre!
Conhece-se em mim o afecto, o amor, a ternura por um egoísmo implacável
que quer tornar muito meus,
e só meus,
os corações que se me dedicam um pouco.
Dá isto muitas vezes
o resultado de me suceder
o mesmo que sucedeu ao cão
que largou a presa pela sombra,
pois querendo muito,
muito perdeu.»



Florbela Espanca

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