quinta-feira, maio 8

Treze Maneiras de ( Não ) Colher Uma Rosa

I
Colocam-se as mãos à volta da rosa,sem lhe tocar,para lhe roubar a forma,das pétalas ao pé.
II
Toca-se na rosa com a boca,até nossos lábios serem pétalas.
III
Aspira-se-lhe o perfume intensamente,até substituir o sangueem nossas veias por inteiro.
IV
Fecham-se os olhos,e, como num sonho,levamos a rosa para dentrodo nosso coração.
V
Embrulha-se a rosa no nosso olhar,atada com os fios do vento.
VI
Atrai-se a rosa a um encontro,num lugar secreto da nossa alma,e não se deixa mais sair de lá.
VII
Olha-se a rosa fixamente,e com o fio de aço do nosso olhar,corta-se-lhe o pé.
VIII
Tira-se todo o jardim à volta da rosa,para que ela venha até nós,ferida de solidão.
IX
Captura-se-lhe a chamaquando a sua cor se confundecom o poente ou o raiar da manhã.
X
Deixa-se que o crepitar da rosaentre em nossa alma,misturado com o sussurrar de uma seara.
XI
Faz-se-lhe uma embuscadaquando o vento da tardetransporta o seu perfumedum lado para o outro.
XII
Esperamos pacientementeque se dilua no orvalho que a cobre toda,e bebemo-la depois,gota a gota.
XIII
Deixamos a rosa, livre, intacta,para a podermos colher,com a avidez dos nossos sentidos.

António Simões

Nenhum comentário: