segunda-feira, outubro 13


Senhora D fala a Ehud
(...) como se eu tocasse sozinho um instrumento, qualquer um, baixo, flautim, pistão, oboé, como se eu tocasse sozinho apenas um momento da partitura, mas o concerto todo onde está? Desperdícios sim, tentar compor o discurso sem saber do seu começo e do seu fim ou o porquê da necessidade de compor o discurso, o porquê de tentar situar-se, é como segurar o centro de uma corda sobre o abismo e nem saber como é que se foi parar ali, se vamos para a esquerda ou para a direita, ao redor a névoa, abaixo um ronco, ou acima?

Ehud responde

isso de procurar a orquestra, senhora D,
é coisa de vadios, sabe-se lá, mudaram-se todos,
que te importa o som de todos se tens o teu?


Hilda Hilst in A obscena senhora D

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