"Era a presa fácil para aquele homem, tinha cheiro de fêmea e flor e sabor de alecrim.
Num impulso vão de se esquivar do desejo bruto do macho, se escondia sob a semi-transparência azul dos
seus sonhos de menina, guardava por dentro dos sonhos, a chave que protegia o essencial: sua docilidade,
a pontiaguda sensibilidade de amor, sua secreta fragilidade; que ele, em sua crueza de bicho faminto, jamais
poderia tocar.
Foram dias buscando um caminho, esbarrando nas sombras de seu espírito contraditório, lutava contra o desejo de ceder, de desistir de si mesma nos momentos em que o frio era maior.
Foram dias pensando em como fugir do mundo que a maturidade lhe impingira, o mundo daquele homem, daquele bicho, daquela fome.
Foram horas suando saudades de dias passados, foram minutos até o ato:
levantou-se do canto do sofá onde bordava suas angústias, deixou escorregar do corpo o véu, seguiu, fechou a porta sem medo, sem olhar pra trás."
Ivana Pascoal
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