A partícula cósmica que navega meu sangue é um mundo infinito de forças siderais...
Veio a mim sob um longo caminho de milênios quando talvez fui areia para os pés do ar...
Logo fui a madeira, raiz desesperada, submersa no silêncio de um deserto sem água...
Depois fui caracol, quem sabe aonde, e os mares me deram a primeira palavra...
Logo a forma humana derramou sobre o mundo a universal bandeira do músculo e da lágrima...
E cresceu a blasfêmia sobre a antiga terra...
E então vim à América para nascer homem, e em mim juntei a mata, os pampas e a montanha...
Converso com as folhas no meio dos montes que dão suas mensagens as raízes secretas...
E assim vou pelo mundo sem idade nem destino, ao amparo de um cosmos que caminha comigo...
Amo a luz, o rio, o caminho e as estrelas, e floresço em violões porque fui a madeira...
(Atahualpa Yupanqui)
terça-feira, janeiro 29
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