Eu sou uma mulher que sempre achou bonito menstruar.
Os homens vertem sangue por doença sangria ou por punhal cravado, rubra urgência a estancar trancar no escuro emaranhado das artérias.
Em nós o sangue aflora como fonte no côncavo do corpo olho-d'água escarlate encharcado cetim que escorre em fio.
Nosso sangue se dá de mão beijada se entrega ao tempo como chuva ou vento.
O sangue masculino tinge as armas e o mar empapa o chão dos campos de batalha respinga nas bandeiras mancha a história.
O nosso vai colhido em brancos panos escorre sobre as coxas benze o leito manso sangrar sem grito que anuncia a ciranda da fêmea.
Eu sou uma mulher que sempre achou bonito menstruar.
Pois há um sangue que corre para a Morte.
E o nosso que se entrega para a Lua.
Marina Colasanti
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