[...]No dia seguinte, logo de manhã. o rapaz foi ao seu jardim e colheu uma rosa encarnada muito perfumada. Foi para a praia e procurou o lugar da véspera.- Bom dia, bom dia, bom dia - disseram a Menina, o polvo, o caranguejo e o peixe.- Bom dia - disse o rapaz. E ajoelhou-se na água, frente da Menina do Mar.- Trago-te aqui uma flor da terra - disse; chama-se uma rosa.- É linda, é linda - disse a Menina do Mar, dando palmas de alegria e correndo e saltando em roda da rosa.- Respira o seu cheiro para veres como é perfumada.A Menina pôs a sua cabeça dentro do cálice da rosa e respirou longamente. Depois levantou a cabeça e disse suspirando:- É um perfume maravilhoso. No mar não há nenhum perfume assim. Mas estou tonta e até um bocadinho triste. As coisas da terra são esquisitas. São diferentes das coisas do mar. No mar há monstros e perigos, mas as coisas são alegres. Na terra há tristeza dentro das coisas bonitas.- Isso é por causa da saudade - disse o rapaz.- Mas o que é a saudade? - Perguntou a Menina do Mar.- A saudade é a tristeza que fica em nós quando as coisas de que gostamos se vão embora.- Ai! - Suspirou a Menina do Mar olhando para a terra. Por que é que me mostraste a rosa? Agora estou com vontade de chorar.[...]
(Sophia de Mello Breyner)
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