quinta-feira, maio 15

SONETO



(Pablo Neruda)




TUA CASA ressoa como um trem ao meio-dia,

Zumbem as vespas, cantam as caçarolas,

A cascata enumera os feitos do orvalho,

Teu riso desenvolve seu trinar de palmeira.



A luz azul do muro conversa com a pedra,

Chega como um pastor silvando um telegrama

E, entre as duas figueiras de cor verde,

Homero sobe com sapatos sigilosos.



Somente aqui a cidade não tem voz nem pranto,

Nem sem-fim, nem sonatas, nem lábios, nem buzina,

Mas um discurso de cascata e de leões,





E tu que sobes, cantas, corres, caminhas , desces,

Plantas, cozes, cozinhas, pregas, escreves, voltas,

Ou te foste e se sabe que começou o inverno.

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